Há um enigma que põe de cabelos em pé até mesmo os mais avançados físicos contemporâneos, assim como está a colocar de cabelo em pé todos os cientistas que já se debruçaram sobre este há dezenas de anos. Vai deixá-lo também, não se preocupe.
Afinal, como compreender um fenómeno onde uma partícula ou qualquer coisa pode estar em dois estados, mesmo que distantes entre si, ao mesmo tempo?
Pois uma partícula quântica pode estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo, podendo, inclusive, vir a interagir com ela mesma.
Mais estranho ainda: as partículas podem ficar emaranhadas (“entangled” é o termo que os cientistas usam em inglês) partilhando um estado comum, mesmo quando estão separadas por anos-luz, de modo que, quando uma é observada, isso afeta o estado da outra. E alterações feitas numa delas aqui, transformam imediatamente a outra acolá.
Está de cabelos em pé aí? Pois eu fico sempre que leio algo sobre o tema. E tenho lido bem.
Coisa de físicos malucos? Sem dúvida. A Computação Quântica será a base da internet quântica, que conceptualmente poderá permitir que, através desta seja possível teletransportar não só informação e dados, como a Internet de hoje, mas também partículas, moléculas e células. Que são corpos físicos, certo?
E aí, bem, aí já começou a imaginar que a ideia de teletransporte humano, aquela mesma do Capitão Kirk e do senhor Spock em “Star Trek”, começa a poder parecer algo, digamos, possível.
Entre outras coisas, a Computação Quântica, além de ocorrer a uma velocidade difícil até de humanamente se mensurar, é tão complexa que resolveria problemas e equações físicas que hoje são totalmente impossíveis de resolver.
Para se ter uma ideia, o computador quântico do Google, possivelmente o mais avançado hoje em teste no mundo, foi capaz de resolver um cálculo em 3 minutos e 20 segundos, que levaria para o supercomputador tradicional mais rápido do Planeta hoje, o Summit, algo em torno de 10.000 anos. Mais cabelos em pé?
E daí? Daí que isso transformará radicalmente tudo o que sabemos e conseguimos aplicar hoje em inúmeros campos da ciência. Ou seja, muitos dos problemas hoje insolúveis, poderiam ser resolvidos.
Os campos usualmente citados como aqueles altamente impactados pela computação quântica seriam a Inteligência Artificial (ela mesma, em si, já altamente transformadora de tudo o que conhecemos) medicina (doenças incuráveis poderiam ter sua cura descoberta), toda a indústria química (potencialmente alterando todas as fórmulas que conhecemos, de todos os produtos que conhecemos), criptografia (todos os códigos criptográficos hoje existentes serão facilmente quebrados pela computação quântica, mas colocaria outros ainda mais seguros e invioláveis no lugar), transformaria ainda toda a própria indústria da computação, chegando até nossos smartphones, por exemplo (smartphone quântico? Isso mesmo…), a capacidade de armazenamento de dados, enfim, praticamente todos os âmbitos do conhecimento e da atividade humana.
Quantum, como já disse, é bem bizarro. Mas é uma bizarrice que nos trará muita coisa boa no seu esquizofrénico jeito duplo de ser e estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Maluco. Mas um bom maluco.
Artigo de Pyr Marcondes, Autor – MIT Technology Review Brasil