Inovação

O futuro das organizações analíticas

A maturidade analítica não é uma opção de caminho e sim uma transição fundamental de todos os negócios. A velocidade da sua organização para realizar esse movimento será um fator chave para o sucesso do negócio.

A velocidade com que acedemos à informação atualmente está a exigir uma transformação no modelo de negócio de todas as empresas ao redor do mundo. Não basta mais ser eficiente ao lidar com vendas, stocks, logística e serviços, também é necessário usar os dados como um diferencial competitivo. Foi isso que descobrimos ao investigar a maturidade analítica das organizações brasileiras no estudo realizado e publicado pelo Cappra Institute. Constatamos uma transformação do modelo de negócio como um todo. Mais do que negócios data-driven, estamos a observar o surgimento de empresas orientadas a dados.

Isso seria natural se estivéssemos a referir-nos ao setor de tecnologia, mas estamos a falar de todos os tipos de negócio — bancos, retalho, saúde, desporto, e tantos outros segmentos — onde a transformação digital modificou tudo, inclusive o core business. Não é mais sobre o uso da tecnologia nas empresas, estamos a falar sobre negócios que se modificam cada vez que armazenam grandes volumes de dados, os transformam em informação qualificada, que pode ser acedida através de sistemas ágeis para tomadores de decisão, mensuram todos os registros e obviamente automatizam tudo isso em rotinas inteligentes. São empresas orgânicas, que se baseiam em informação para evoluir.

A evolução da maturidade analítica das organizações brasileiras pode ser compreendida ao observar a transformação dos modelos de empresas ao longo dos tempos:

Para começar, registamos a modificação na forma de se tomar decisões, afinal, esse é um aspecto diretamente impactado pela informação, e transforma completamente o funcionamento da empresa. Também identificamos as alavancas para a evolução das organizações em cada degrau de evolução analítica, pois, ao questionar os líderes dos negócios sobre quais aspectos haviam gerado aquela transformação, destacaram os fatores que impulsionaram a mudança. Na evolução das organizações analíticas, os estágios da transformação e o processo de tomada de decisão estão diretamente relacionados, mas precisamos estar atentos às alavancas para acelerar essa escalada.

As alavancas para a evolução analítica

Motivação por dados e apoio da alta administração: esse é o primeiro aspecto de uma transformação analítica, quando uma empresa que costuma ter um processo de decisão centralizado e geralmente composto por feeling individual deixa os seus vícios de lado e passa a olhar para os dados de uma nova forma. Esse é um impulsionador das empresas do estágio 1 para se tornarem empresas conectadas, estágio 2, onde o insight baseado em dados é uma rotina muito valorizada no negócio.

Simplicidade para consumidores de informação (conceitual, visual e processual): essa é a segunda alavanca, que transporta a empresa do estágio 2 para o estágio 3, tornando-a ágil. A democratização da informação, o fácil acesso e a linguagem amigável, é algo fundamental na evolução analítica. Nessa fase costumamos ver dashboards espalhados pelo negócio, seja nos seus espaços físicos ou nas suas plataformas digitais, e aqui a participação de qualquer pessoa que tenha acesso àquele tipo de informação é valorizada, afinal a circulação da informação pode capitalizar todos no processo decisório baseado em evidências.

Incremento de soluções de alta tecnologia e análise self-service: Na terceira alavanca surge a necessidade de ativação de recursos tecnológicos mais avançados, muitos deles já disponíveis na área de TI da empresa, mas ainda pouco usados. Aqui, na evolução para o estágio 4, todos os indivíduos se tornam consumidores e produtores de análises de dados (self-service analytics), e é quando surge um sistema descentralizado de tomada de decisão. Todo processo e espaço é analítico, não existem mais barreiras para as informações e dados, qualquer indivíduo pode gerar as suas próprias análises para tomar decisões orientadas por evidências.

Independência de processo, desapego estrutural e alto engagement analítico: essa é uma das alavancas mais complexas para os líderes que estão a promover a mudança, pois exige uma transformação na forma de pensar no negócio como um todo. Quando a empresa chega ao estágio 5 torna-se orgânica, com uma tomada de decisão multidimensional, e o principal agente de transformação do negócio já não são apenas os indivíduos, mas sim a própria informação que circula pela empresa. As áreas do próprio negócio já não são mais formais, isso pode ser visto atualmente nas representações de squads, que são construídos para resolver problemas específicos, independentemente de onde ocorrem na organização. O nosso estudo no Data Thinking sobre “inforgatizations” explica exatamente esse tipo de empresa, orgânica e multidimensional.

Fluxo substitui o processo, centrado nos resultados dos algoritmos e I.A.: a última alavanca, que leva as organizações analíticas para o estágio 6, é quando a automação do processo decisório é a principal rotina de negócio e o papel dos indivíduos passa a ser gerir o conhecimento, moldar os algoritmos e rotinas de inteligência artificial e fazer a administração e a governança dos dados, que se torna o principal ativo do negócio. Aqui, o segmento do negócio importa menos do que a capacidade de administração da informação, já que aqueles que melhor dominarem os dados e rotinas automatizadas também podem avançar para outros segmentos do mercado com o mesmo nível de eficiência.

São essas as 5 alavancas para as organizações analíticas que modificam o processo de tomada de decisão e o modelo de negócio criando, assim, novos tipos de empresas, que utilizam dos mais novos recursos tecnológicos, extraindo o máximo dos dados e usufruindo da informação de forma mais orgânica. As empresas data-driven, com alto nível de maturidade analítica, são aquelas que dominam mercados a partir de uma melhor gestão da informação. Profissionais melhores preparados para lidar com dados, com capacidade de gerar as suas próprias análises e criar as suas rotinas automatizadas serão os que ocuparão os papéis estratégicos nos negócios do futuro. Não existe mais espaço para empresas e pessoas que utilizem o feeling como principal instrumento de aceleração do seu negócio afinal esse é um recurso que gera incerteza, que não se baseia em evidências e não possibilita simular cenários futuros através de modelos precisos, tornando-se um risco para qualquer empreendedor, investidor ou cliente.

A maturidade analítica não é uma opção de caminho e sim uma transição fundamental de todos os negócios. A velocidade da sua organização para realizar esse movimento será um fator chave para o sucesso do negócio, caso contrário, empresas de tecnologia irão tomar novos mercados. A transformação digital deixou muitas organizações tradicionais para trás, à medida que empresas que não conseguiram acompanhar a velocidade da mudança ficaram pelo caminho. Dessa forma, é inevitável que a revolução analítica seja acelerada em razão disso. Comece agora mesmo, prepare a sua empresa, ajude no desenvolvimento dos profissionais que trabalham consigo e acelere a mudança na mentalidade, pois o mercado vai exigir uma verdadeira corrida da maturidade analítica para aqueles que querem sobreviver em mercados tão instáveis.

Artigo de Ricardo Cappra – Autor, MIT Technology Review Brasil

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