Nada saiu como planeado nas viagens espaciais de 2020. Como quase tudo no mundo, a exploração espacial também foi duramente prejudicada pela pandemia. No ano passado, fizemos uma lista das sete missões espaciais que mais queríamos ver partir em 2020. Algumas delas foram executadas brilhantemente: a SpaceX enviou astronautas ao espaço! A missão chinesa trouxe de volta rochas lunares! Mas muitas das nossas expectativas foram, infelizmente, frustradas: o rover Rosalind Franklin, fruto de uma parceria entre a Europa e a Rússia, acabou por ser adiado para 2022. A nave da SpaceX não foi para o espaço (embora tenha voado bem alto). Qualquer esperança de que a Artemis 1, a primeira missão do novo programa de exploração lunar da NASA que almejava levar as pessoas de volta à Lua até o final da última década, ainda partiria em 2020 foi frustrada quando a pandemia forçou o encerramento da maioria das instalações da NASA.
Ainda assim, 2021 promete ser um ano empolgante de exploração espacial. Evidentemente, há muito mais por vir, à medida que as ambições da NASA de voltar à lua e o desenvolvimento da indústria espacial privada avançam a um ritmo nunca antes visto. Aqui estão as 11 missões cujos lançamentos nos deixaram mais animados ou que estamos certos de que atingirão novos marcos no próximo ano. Mas não se esqueça: o espaço é imprevisível e há grandes chances de que muitas dessas missões atrasem meses ou até anos.
Trio de missões a Marte (fevereiro)
Marte receberá não uma, não duas, mas três missões — cada uma lançada e operada por um país diferente. Temos o orbitador Hope dos Emirados Árabes, o rover Perseverance lançado pela NASA e a missão Tianwen-1 (com orbitador, sonda e rover) lançada pela China. Todas vão entrar na órbita de Marte em fevereiro. O Perseverance irá aterrar já no final desse mês, seguido pela Tianwen-1 em abril.
O Hope ajudará os cientistas a responder a perguntas sobre a atmosfera tal como o porquê de Marte sofrer efluxos de hidrogénio e oxigénio. A Tianwen-1 e o Perseverance procurarão por sinais de vida no passado e no presente desse planeta e elementos que contribuirão para um melhor entendimento da geologia de Marte. Enquanto as missões da NASA para Marte são corriqueiras, esta será a primeira vez que a China e os Emirados Árabes verão o planeta de perto.
Probabilidade de sucesso: 9/10. Os lançamentos das missões foram bem-sucedidos, mas ainda não se sabe se todas vão sobreviver à jornada, e se duas delas conseguirão aterrar.
Segundo teste Starliner da Boeing (29 de março)
Embora o Crew Dragon, a cápsula espacial da SpaceX, tenha sido capaz de trazer missões tripuladas de volta ao solo americano, não é único veículo que a NASA espera usar para o transporte de astronautas da Estação Espacial Internacional (EEI). A Boeing também tem um veículo chamado Starliner, cuja missão não tripulada para a EEI fracassou em dezembro de 2019. O motivo: o software da nave espacial estava cheio de erros, incluindo alguns que poderiam ter levado à destruição de toda a cápsula. Não foi o melhor momento da Boeing.
A empresa, contudo, irá refazer a sua missão-teste em março, depois de ter vasculhado todo o código do Starliner e executado os seus sistemas por meio de uma série de novos testes rigorosos. Se tudo correr bem, espera-se que o Starliner seja capaz de enviar a sua tripulação para a EEI já no final deste ano.
Probabilidade de sucesso: 8/10. Depois de tudo o que aconteceu, não é possível apostar todas as nossas fichas na Boeing.
Primeiras missões do Serviço Comercial de Carga Útil Lunar (CLPS, em inglês) (junho e em outubro)
O programa Artemis da NASA, o sucessor do Apollo, não incluirá apenas algumas viagens rápidas de ida e volta à Lua. O Artemis tem como objetivo levar as pessoas à Lua permanentemente, com a participação da indústria privada. O CLPS é uma oportunidade para que as pequenas empresas interessadas façam qualquer coisa relacionada à Lua: voar pequenas cargas úteis com novas espaçonaves, testar novas tecnologias para voos espaciais por lá, ou conduzir experiências científicas (desenvolvendo uma “ciência lunar”).
A sonda Peregrine da Astrobotic Technology (a ser lançada no voo inaugural do novo foguete Vulcan Centaur da United Launch Alliance) levará o primeiro lote de 28 cargas CLPS à Lua em junho, incluindo 14 da NASA. Caso tudo ocorra bem, será a primeira nave espacial a aterrar com sucesso na Lua. A Intuitive Machines lançará a sua sonda, a Nova-C, à lua em outubro (a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9). Levará pelo menos cinco cargas úteis da NASA para a Lua, junto a várias outras cargas úteis de outros grupos.
Probabilidade de sucesso: 6/10. Aterrar na Lua ainda é complicado, ainda mais para novatos.
O fim da Juno (30 de julho)
A aeronave Juno da NASA está a orbitar Júpiter desde julho de 2016, fornecendo os nossos melhores dados sobre a atmosfera de Júpiter, o seu campo gravitacional, o seu campo magnético e a sua geologia. A Juno não só nos mostrou algumas coisas surpreendentes sobre o maior planeta do nosso sistema solar, mas também nos forneceu imagens deslumbrantes das suas nuvens tão vibrantemente coloridas vistas de cima. Mas a missão termina a 30 de julho, quando Juno dará um mergulho na atmosfera de Júpiter, recolhendo o máximo de dados possível antes que pressões violentas dilacerem a aeronave.
Tem-se falado nos últimos meses que alguns funcionários da NASA estão a planear uma extensão da missão para setembro de 2025, a fim de que a Juno possa voar sobre algumas das luas de Júpiter e estudá-las de perto. Talvez aquele desfecho violento possa ser adiado por mais alguns anos. Atualização 11/01/21: A NASA confirmou que a missão Juno será estendida até 2025.
Probabilidade de sucesso: 10/10. Se a missão de Juno seguir conforme o planeado, as hipóteses de falhar em destruir a sua própria nave espacial são praticamente nulas.
Luna (25 de outubro)
A última missão que os russos lançaram à Lua foi a Luna 24, em 1976. Talvez em resposta ao rápido desenvolvimento do programa Artemis da NASA e do programa de exploração lunar da China, a Rússia ressuscitou o programa Luna com a 25ª missão planeada, com lançamento previsto para outubro. Luna 25 será uma sonda que se dirige ao polo sul lunar. Testará um novo tipo de tecnologia de aterragem que a Rússia planeia usar em futuras missões com robôs, só que a sonda levará também um conjunto de instrumentos científicos para o estudo do solo lunar.
Probabilidade de sucesso: 8/10. A Rússia sabe como aterrar uma espaçonave na Lua. A sua agência espacial caótica só precisa iniciá-la.
SpaceX Axiom Space 1 (mês de outubro)
Esta missão usará um SpaceX Crew Dragon para enviar uma tripulação privada para a EEI, onde terão uma estadia de pelo menos oito dias. Será a primeira missão privada em órbita, a primeira missão privada para a EEI e a primeira vez que a SpaceX enviará cidadãos da iniciativa privada ao espaço. E Tom Cruise pode ser um dos tripulantes.
Probabilidade de sucesso: 9/10. Essa missão só será lançada se todos os envolvidos estiverem confiantes de que é segura, mas até mesmo pequenos contratempos ou tropeções logísticos inevitavelmente irão gerar atrasos.
Telescópio espacial James Webb (31 de outubro)
Outro projeto da NASA que tem enfrentado atraso atrás de atraso é o JWST: é uma das missões científicas mais ambiciosas da história recente. Passou a ser, em muitos aspectos, sucessor do Telescópio Espacial Hubble, mas a sua ênfase em fazer observações infravermelhas de última geração da órbita da Terra faz com que tenha um potencial extraordinário para estudar as atmosferas de exoplanetas e de exoluas distantes e investigar se esses podem ter sinais de bioquímica gerada por vida extraterrestre. É uma bela maneira de celebrar o Halloween, não acha?
Probabilidade de sucesso: 3/10. Foram tantos adiamentos na sua data de lançamento que, a esta altura, ninguém se surpreenderia se um novo atraso fosse anunciado.
Artemis 1 / SLS 1 (novembro)
Eis que a Orion, a cápsula de espaço profundo que a NASA está a construir para enviar os humanos de volta à lua algum dia (sugiro não criar expectativas de que isso irá acontecer em 2024), finalmente vai para o espaço pela primeira vez desde 2014 — e pela primeira vez para além da órbita da Terra. Para a Artemis 1, uma Órion sem tripulação fará uma missão de 25 dias e meio que a levará à Lua por alguns dias e a trará de volta à Terra são e salva (espera-se). A missão testará o hardware, software e sistemas de suporte de vida do veículo da Orion. Contará também com dois manequins amarrados em dois assentos, equipados com sensores que vão medir a quantidade de radiação à qual uma tripulação dentro da cabine seria exposta durante a viagem.
O lançamento da Artemis 1 será feito de maneira concomitante a outro: o de estreia do Space Launch System, o foguete mais poderoso já construído. O desenvolvimento do SLS tem sofrido incontáveis atrasos e não há nenhuma garantia de que a Orion ou o SLS estarão prontos em novembro. Mas, caso estejam, prepare-se para assistir a um lançamento brutal.
Probabilidade de sucesso: 1/10. O único projeto da NASA que superará a marca dos atrasos do JWST é o SLS. É quase certo que essa missão não acontecerá como programado.
Estação espacial chinesa (início de 2021)
A próxima fase do programa Tiangong da China é uma estação espacial orbital modular com cerca de um quinto do tamanho da EEI. A China planeia lançar a primeira parte em 2021 — um módulo de serviço central chamado Tianhe. Esta será a primeira de 11 missões lançadas no período de dois anos com o intuito de finalizar a estação, deixando-a pronta para uso dos trios das equipas de taikonautas por pelo menos uma década.
Probabilidade de sucesso: 5/10. A China também não é um exemplo para cumprir estes prazos, mas a sua agência espacial não tem que lidar com as mesmas incertezas burocráticas que a NASA.
LauncherOne (início de 2021)
A Virgin Orbit já tem clientes fazendo fila para as suas missões de carga útil pequena nesse ano, embora a empresa ainda não tenha feito um teste de voo bem-sucedido do seu veículo de lançamento principal, o LauncherOne. A Virgin Orbit, assim como sua empresa irmã Virgin Galactic, está a tentar fazer as suas missões acontecerem por meio de tecnologia de lançamento aéreo, que possibilita a uma aeronave levantar um foguete no ar, liberando-o para voar o resto do caminho. A primeira tentativa de tal lançamento, em maio passado, foi abortada por causa de uma linha de propelente com defeito.
A Virgin Orbit planeava tentar novamente em dezembro, mas restrições causadas pela Covid-19 tornavam isso impossível. A empresa deve lançar seu veículo assim que uma oportunidade surgir. Se a missão fracassar mais uma vez, o resto do cronograma da empresa estará em risco.
Probabilidade de sucesso: 8/10. Se a Virgin Galactic pode levar as pessoas ao espaço, então certamente a Virgin Orbit pode enviar um satélite ao espaço … Certo?
Seria esse o grande ano da Blue Origin? (a ser determinado)
A empresa espacial liderada por Jeff Bezos tem duas grandes missões planeadas para 2021. Quer mandar pessoas ao espaço num vôo suborbital a bordo do seu veículo de lançamento, o New Shepard. O New Shepard foi lançado 13 vezes e o seu foguete auxiliar provou que pode ser reutilizado por meio de aterragens verticais após o voo (semelhante ao que o SpaceX Falcon 9 faz). A empresa espera usar o New Shepard para oferecer às pessoas voos suborbitais de poucos minutos de duração como serviço de turismo espacial.
Enquanto isso, um outro projeto ainda maior pode finalmente descolar em 2021. Chamado de New Glenn, consiste em um veículo de lançamento pesado que é supostamente mais poderoso do que, até mesmo, um SpaceX Falcon Heavy. Embora ainda não tenhamos visto muito do seu hardware, a Blue Origin afirma que espera lançar o New Glenn antes do final de 2021.
Probabilidade de sucesso: 2/10. A empresa ainda quer priorizar a realização de algumas missões com o New Shepard antes de permitir que os seus tripulantes apertem os seus cintos, e, por esse motivo, o New Glenn pode não estar pronto em 2021. E o desenvolvimento em New Glenn caminha a passos cada vez mais lentos.
Artigo de Neel V. Patel, Space Reporter – MIT Technology Review EUA