Natureza e Espaço

China lança a sua primeira missão para trazer rochas lunares de volta à Terra

Se Chang’e 5 for bem-sucedida, regressará a primeira amostra lunar à Terra em mais de 44 anos e colocará a China num grupo muito exclusivo

A China iniciou sua missão Chang’e 5 à lua no final de novembro, a partir do local de lançamento do país na Ilha de Hainan, no Mar do Sul da China. O país está a procurar trazer amostras de solo e rocha da superfície lunar de volta para a Terra pela primeira vez na sua história, para estudos científicos.


O foguetão Longa Marcha 5 que deu início a missão Chang’e 5. TOP FOTO VIA AP IMAGES

O que vai acontecer: Chang’e 5 chegou à lua no início de dezembro. São quatro partes: uma sonda, um módulo de pouso e outro de subida e uma cápsula de retorno. A nave não está equipada com nenhuma unidade de aquecimento para ajudar os componentes eletrónicos a bordo a suportar as temperaturas superfrias da noite lunar. Isso significa que a missão deve recolher a sua amostra e começar a voltar para a Terra em 14 dias (a duração do dia lunar).

Conte-me mais: a sonda descerá até a superfície da Lua num local próximo a Mons Rümker, uma formação vulcânica na região do Oceanus Procellarum que fica na borda oeste do satélite. A missão tentará recolher pelo menos 2kg de terra lunar ao perfurar cerca de 2 metros abaixo do solo e com um braço robótico, vai apanhar amostras. Um Espectrómetro de Infravermelho Próximo (NIR) e um radar de penetração no solo ajudarão o Chang’e 5 a analisar parte da superfície ainda no chão, além de garantir que evite rochas grandes ou perigosas.

Assim que o material for recolhido, será armazenado num veículo de ascensão espacial que o levará de volta ao orbitador. Então, colocará a amostra numa cápsula de retorno que deve voltar à Terra no dia 17 de dezembro e pousar em algum lugar da Mongólia Interior.

O que podemos aprender: acredita-se que a área ao redor de Mons Rümker tenha rochas com quase mil milhões de anos. Podem ser as mais jovens já trazidas de volta à Terra — muito mais do que as de 3 a 4 mil milhões de anos trazidas pelas missões Apollo. Esses materiais podem ajudar os cientistas a entender melhor a história da Lua, lançando luz sobre questões quanto ficou fria com o tempo e como o seu campo magnético se dissipou. Será a primeira vez que cientistas chineses estudarão diretamente o material lunar, já que o Congresso atualmente proíbe a NASA de trabalhar com a China e permitir o acesso às rochas da era Apollo.

Corrida espacial: se for bem-sucedida, esta missão tornará a China o terceiro país do mundo (depois dos EUA e da ex-União Soviética) a trazer materiais da superfície lunar de volta à Terra. A última missão de retorno lunar foi a Luna 24 da União Soviética em 1976. As missões de retorno de amostra ainda são incrivelmente difíceis de realizar e, se der certo, Chang’e 5 pode ser uma das maiores conquistas tecnológicas da China até hoje.

Chang’e 5 é a missão mais recente num programa de exploração lunar de muito sucesso. O programa mais bem-sucedido até agora foi o Chang’e 4, um rover que se tornou a primeira espaçonave a pousar com segurança no outro lado da Lua. Já levou a algumas informações científicas interessantes de uma região da Lua dificilmente vista antes. Chang’e 6, programada para ser a segunda missão lunar de retorno da China, deve ser lançada em 2023 ou 2024.

Artigo de Neel V. Patel, da MIT Technology Review (EUA) (adaptado).

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