Biotecnologia

4 tendências tecnológicas na saúde para 2022

Telemedicina e uma explosão de investimento ocorreram em 2021 para alavancar o setor de saúde, que vai intensificar a digitalização e o uso de novas tecnologias ao longo deste ano.

Em 2021, registámos uma explosão de investimentos no setor da saúde, algo nunca visto neste mercado. Segundo dados da Startup Health, o ano de 2021 contabilizou 44 mil milhões de dólares americanos investidos, um crescimento 20 vezes maior quando comparado com os últimos 10 anos.

Imagem: Relatório Startup Health Insights 2021

Mas engana-se quem pensa que esses investimentos foram somente nos Estados Unidos, até então o polo de saúde digital no mundo. No ano passado, grandes quantias também foram investidas em outros mercados, como no Brasil, exemplos das health techs Sami e Alice para ganharem relevância no competitivo mercado de planos de saúde, bem como em aquisições e consolidação de grandes marketplaces e softwares de saúde na Europa, como o investimento da Docplanner (Doctoralia no Brasil) ao adquirir a Jameda para entrar no mercado alemão onde a rival francesa Doctolib atuava.

A digitalização da saúde é esperada há anos e, com tecnologia, empresas e profissionais de saúde mais preparados, tudo indica que 2022 será um dos anos mais intensos para as health techs.

Abaixo, destaco as principais tendências para o ano que está a começar:

Novos wearables para monitorizar a nossa saúde

O mercado de wearables continua a crescer e, com a aceleração da digitalização da saúde por causa da pandemia, tudo indica que essa tendência irá continuar forte.

Muito se esperava do Apple Watch Series 7 para 2021 do ponto de vista de novos sensores, mas o lançamento dececionou. Para este ano, quatro diferentes sensores são especulados, como glicemia, pressão arterial, monitorização de apneia e de temperatura, estando o último também relacionado com os rumores de que a Apple pretende investir mais na saúde da mulher e na fertilidade.

A gigante farmacêutica Abbott também deu sinais de que pretende continuar a investir em bio wearables, conforme declarações do CEO da empresa, Robert B., durante o Consumer Electronics Show, realizado no início de janeiro em Las Vegas, nos Estados Unidos. O executivo mencionou que os seus wearables, para além de ajudarem pessoas com diabetes, também irão apoiar atletas profissionais nas melhorias de performance que podem ser alcançadas mediante a monitorização de diferentes sinais do corpo, como glicose, cetonas e ácido láctico.

O lançamento e a popularização de novos wearables de saúde também aumentam a prática de biohacking não apenas entre atletas, mas também entre a população de maneira geral.

Imagem: Abbott CES 2021

Registos médicos digitais

A telemedicina tornou-se um item básico em 2021. Todos os grandes players do mercado já oferecem essa prática aos seus doentes, mas o que ainda está para evoluir é a parte de gestão de registos e prescrições de maneira digital.

Os doentes ainda não possuem um repositório digital para receber, armazenar e partilhar dados de saúde, e com a evolução dos wearables e a monitorização de doentes, é fundamental que avancemos também nessa frente, caso contrário o historial de saúde irá ficar perdido.

Gigantes como a Google e a Apple começam a explorar essas possibilidades em países como os Estados Unidos; porém, acredito que ainda existam oportunidades para start-ups de saúde atuarem nesse mercado por todo o mundo.

Imagem: Apple Health ícones

Cuidado híbrido de saúde

Com o início da pandemia vimos um crescimento exponencial do uso da telemedicina para consultas entre profissionais de saúde e doentes no Brasil e no mundo. Porém, após as primeiras ondas da COVID-19, vimos que o número de consultas por telemedicina se estabilizou. Procurei compreender melhor esses dados e, ao entrevistar doentes e profissionais de saúde, percebemos que, embora a telemedicina tenha facilitado o acesso à saúde, ambas as partes, de maneira geral, preferiam um modelo híbrido, onde em alguns casos optavam pela telemedicina e em outros pela consulta e pelo acompanhamento presenciais.

Assim, na minha opinião, em 2022 veremos um crescimento de um modelo híbrido porque os doentes estão mais exigentes, ou seja, os profissionais e as organizações de saúde irão precisar de ter uma presença online para facilitar o acesso à saúde, mas não podem deixar de lado a experiência presencial quando necessário.

Porque é esse ponto interessante? Porque softwares de saúde precisam de estar adaptados para esse modelo híbrido, bem como muitos profissionais de saúde que seguiam até então com o velho papel e caneta irão precisar de migrar e utilizar tais sistemas, logo produtos digitais com uma boa experiência e que otimizem o tempo desses profissionais serão cada vez mais fundamentais em 2022.

Imagem: Doctoralia para médicos

Tratamentos e acompanhamento digitais

Em muitos países, os tratamentos digitais já são realidade, os quais permitem serem prescritos e até mesmo reembolsáveis pelo sistema de saúde do país. É uma área que exige forte regulação e estudos, pois em muitos casos pode haver a substituição de medicamentos, portanto, na grande maioria dos casos, estes precisam de passar por algumas etapas que comprovem a sua eficácia antes de serem disponibilizados ao público.

Enquanto a Alemanha e os Estados Unidos são dois dos pioneiros no uso, regulamentação e estruturação do reembolso de tratamentos digitais, no Brasil ainda pouco se fala sobre o assunto. Porém, as primeiras start-ups no setor começam a surgir, casos como a da Lincon, que se foca no controlo e acompanhamento de doentes diabéticos e hipertensos, provavelmente inspirada em bons exemplos de fora, como Omada e Vida Health.

Com a difusão de novos wearables, boa cobertura de internet e amadurecimento do setor de saúde, naturalmente novas start-ups irão surgir nesse setor para auxiliar os doentes nos seus tratamentos de saúde.

Artigo de Gustavo Comitre, Autor – MIT Technology Review Brasil

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