As blockchains existem há apenas treze anos, e nos primeiros seis anos as aplicações de blockchain único prevaleceram. Com o lançamento da blockchain Ethereum, em 2015, passamos à Era Blockchain 2.0 onde programadores aprimoram contratos inteligentes para inserir lógica de negócios e regras de governança em blockchains e possibilitar a digitalização da sociedade.
Agora, estamos a ingressar numa nova etapa, a Era Blockchain 3.0, onde uma miríade de projetos pretende melhorar escalabilidade, segurança dos protocolos e mecanismos de consenso, sustentabilidade, privacidade e a “interoperabilidade”.
Mas onde estaremos em 2050?
A mudança é a única certeza
Por causa da competição entre os Estados, as tecnologias de núcleo como a Internet, a Blockchain e a Inteligência Artificial costumam ser rapidamente integradas à sociedade.
Enquanto alguns países e governos sejam resistentes às mudanças, e procurem impedir, ou pelo menos retardar a inovação, seja proibindo tecnologias de privacidade como criptografia, seja restringindo apps de mensagens ou pagamentos peer-to-peer, a maioria dos países acabam por usar essas tecnologias emergentes para trazer desenvolvimento e emprego aos seus cidadãos.
Nesse passo, fazendo um exercício de reflexão, vejamos onde a tecnologia blockchain pode alcançar daqui a trinta anos.
Tendências que estarão em pleno vigor em 2050
Assim como o TCP/IP e o restante da Internet se tornaram o backbone aberto e livremente acessível da Web da Informação, blockchains descentralizados globais interoperáveis também emergirão como espinha dorsal da estrutura da Web.
Nessa linha, algumas tendências, que acredito estarão em pleno vigor em 2050, são:
As redes sociais, jogos, mensagens e pagamentos se tornarão mais descentralizados e plataformas Blockchain serão a camada de rede base para a quase totalidade dos modelos de negócio.
Tudo se tornará propriedade privada em mundos “virtuais” no metaverso, onde a riqueza crescerá exponencialmente.
As barreiras para trabalhar e alternar entre os mundos virtuais serão 100 vezes menores do que num mundo físico.
As sociedades (dentro do metaverso) começarão a experimentar sistemas sociais e monetários muito mais diversos.
Então, depois que uma nova geração cuja riqueza foi construída num mundo virtual surgir, haverá mudanças em parte do mundo “real”, tornando realidade o que os pioneiros da internet do final da década de 1970, início dos anos 80 descreviam como metaverso funcional.
Mas a esta altura, o que será realidade e o que será virtual?
Em 2050, o mundo será Phygital
Daqui a trinta anos, a fusão do mundo físico com o mundo virtual estará quase completa, viveremos num mundo Phygital. A maioria dos países já terá implementado cidades inteligentes, e os seus cidadãos contarão com sensores e dispositivos embutidos na sua estrutura.
Os dispositivos de Internet das Coisas (IoT) serão os olhos, ouvidos e mãos de cidades como Berlim, Dubai, Nova Iorque, Singapura e Shanghai, recolhendo dados automaticamente sobre tudo, desde o movimento do tráfego até fatores ambientais, clima, rastreamento da cadeia de suprimentos e gerenciamento de recursos (como água, energia, resíduos, etc.).
Tais dados serão usados para informar e adaptar a política, bem como na tomada de decisões em tempo real para permitir que os sistemas funcionem sem problemas.
E à medida em que novas redes de alta velocidade, como 5G ou LoRaWAN, forem implementadas, possibilitando que todas as coisas se conectem à internet e formem uma rede de dispositivos (também conhecida por fenômeno da Onipresença, ou simplesmente por IoT – Internet of Things), conectados para serviços e utilitários essenciais, também aumentará a necessidade de micropagamentos automatizados.
Ainda, os casos de uso incluirão desde veículos elétricos e autônomos à entrega de medicamentos por drones, ou ainda, provedores de gateway de rede IoT, todos sendo pagos automaticamente via contratos inteligentes ou alimentados por dispositivos habilitados dentro de seu alcance.
O principal requisito para essas redes de malha de dispositivos é a escala, velocidade e segurança, bem como a autoridade delegada sustentada por uma identidade digital descentralizada em Blockchain.
Aqui, vale destacar que a infraestrutura de pagamento atual não suporta dezenas de biliões de dispositivos IoT sempre conectados. Hoje, a Internet ainda roda em um protocolo cliente-servidor. A arquitetura da Internet não mudou muito e estamos sempre à procura de uma Internet verdadeiramente aberta e livre.
Uma das falhas mais significativas da Web 2.0 e da Web 1.0 é a arquitetura baseada no cliente/servidor. Ou seja, todos os nossos dados pessoais na Internet são armazenados num computador com enorme capacidade de armazenamento. Todos os dados que transacionamos na Web estão sob o domínio de países ou empresas privadas.
Com a evolução da Internet, em 2050 estaremos finalmente a viver na Web 3, graças a tecnologias como as arquiteturas Blockchain que servirão de estrutura a uma Web de dados genuinamente descentralizada.
Perspectivas finais
Daqui a 30 anos, Blockchain será uma das principais tecnologias a compor a infraestrutura global subjacente, conectando vários pontos de dados, dispositivos e partes interessadas uns aos outros, e será a chave para o sucesso dos sistemas de incentivo e integridade geral das cidades.
“A tecnologia de razão distribuída será a camada de rede fundamental para muitos desses sistemas que sustentam os serviços financeiros, a cadeia de abastecimento, os sistemas de identidade interoperáveis e os novos modelos económicosdescentralizados”.
Além disso, a propriedade descentralizada dos ledgers de dados e repositórios no centro das cidades tornará a corrupção quase impossível, já que nenhuma entidade centralizada controlará o acesso ao ledger de registros distribuídos.
Os Blockchains de primeira geração atualmente não podem ser escalonados para atender a essas necessidades sem comprometer a segurança ou a descentralização.
Mas já estão a surgir blockchains públicos de terceira e quarta geração que, em 2050 atenderão aos requisitos de alto rendimento sem comprometer a segurança e, portanto, a confiança que é essencial. Sim, em 2050, os Blockchains públicos serão a espinha dorsal da infraestrutura, com os Blockchains privados sendo usados de modo setorizado ou por indústria.
E se considerarmos que cidades inteligentes exigem um novo tipo de “encanamento” financeiro que ofereça suporte a todos os seus serviços, provavelmente estes se basearão em Blockchain.
Neste cenário, as criptomoedas, stablecoins e moedas digitais do banco central (CBDCs) disputarão espaço lado-a-lado e algumas cidades terão sua própria moeda digital (como já está acontecendo em Miami) para apoiar suas iniciativas “Indústria 4.0”.
Em 2050, o mundo será descentralizado, e Blockchain uma peça chave para esta transformação.
Artigo de Tatiana Revoredo, Autor – MIT Technology Review Brasil