A ocupação que cada um de nós idealiza para a sua vida, quando é mais novo, prende-se normalmente com o fascínio e o imaginário do que nos faz vibrar e de quem idolatramos. Por vezes um astronauta que pisou a Lua e conquistou o espaço, outras vezes o melhor futebolista do mundo que fintou todos em 1986 e marcou o golo do século, outra o político carismático que nos liberta do fascismo ou mesmo a autoridade que anda a alta velocidade na estrada com pirilampos e sirenes a fazer justiça.
Mas o tempo passou e a internet transformou radicalmente a sociedade e a noção de ídolos. Os ídolos de carne e osso deram lugar a realidades virtuais paralelas e estilos inexistentes há poucos anos. Hoje influenciar é a moda, conseguir ser famoso. Seja isso através de streaming (p.ex. estando a jogar computador ou consola de forma a que outros acompanhem e aplaudam virtualmente o nosso jogo, em plataformas como o Twitch), seja através do campeonato dos likes nas redes sociais (p.ex. a montra de vaidades que é o Instagram e os problemas sociais e de saúde mental que tem gerado nos mais jovens por não se reverem ou replicarem nas realidades percecionadas de felicidade que a rede lhes cria) ou mesmo através de jogos ou eSports (área que hoje gera mais receita que todo o universo dos filmes e música combinado e que chega a competir em visualizações com as finais da Liga dos Campeões).
Estando nós na era do crescimento exponencial, tudo isto será Sol de pouca dura. O que teremos pela frente será um mundo cada vez mais automatizado, onde robots exercerão uma grande parte das tarefas hoje executadas por humanos e onde as áreas da saúde, computação e matemática estarão no topo das necessidades da sociedade.
Na área da saúde, com o envelhecimento, aumento do tempo de vida médio da população e aumento do número de habitantes do planeta, as necessidades serão óbvias. Enfermeiros, gestores de serviços de saúde, professores de áreas de saúde para diversos níveis de formação, até áreas de maior nicho mas que representarão um crescimento enorme face ao que existe hoje em dia, por exemplo, conselheiros genéticos ou epidemiologistas. Os dados analíticos concretos, para os mais curiosos, são partilhados pelo “U.S. Bureau of Labor Statistics”.
Na área da computação e da matemática, num mundo robotizado, alguém terá de construir e programar esses robots e de se ocupar em trabalhar o tsunami de dados gerados pelo mundo futuro. Teremos mais atuários, mais analistas de segurança de informação, mais estatísticos e muitíssimo mais “data scientists”, os cada vez mais famosos cientistas dos dados e da “big data” que mastigam quantidades insanas de dados para tirarem conclusões por vezes pouco óbvias através de algoritmos e inteligência artificial.
Do outro lado da moeda, teremos profissões que vão perder tração e tornar-se cada vez menos relevantes. As áreas de produção (devido à robotização) e as áreas de processos mecanizados, repetitivos ou administrativos têm os dias contados. Assistentes administrativos, escriturários, tradutores, operadores de telefone, funcionários de agências bancárias, telemarketing e vendedores de porta-a-porta terão reduções na ordem dos 20% na próxima década, segundo a fonte anterior.
Não sabemos quais serão os sonhos dos jovens dentro de 10 ou 20 anos, mas podemos adivinhar que não serão os astronautas da década de 1980 nem os streamers da década de 2010. Talvez os movimentos na sociedade, na tecnologia, no mercado de trabalho e as novas oportunidades que estão a surgir possam ajudar esses jovens a alinhar os seus sonhos com a real procura do mercado.
Artigo Gonçalo Perdigão, Autor – MIT Technology Review Portugal