Uma simples mudança nas regras de travessia está a melhorar a segurança.
Para os pedestres, caminhar numa cidade pode ser uma experiência frenética e stressante. Cruzamentos furam a rota. Carros estacionados bloqueiam a vista; pode ter que andar sobre meios-fios. A cidade é uma pista de obstáculos.
Recentemente, a Transport for London (TfL), o órgão público responsável pelos serviços de transporte na capital britânica, começou a entender isso e passou a testar novas regras em 18 cruzamentos pela cidade. Em vez de terem que aguardar o “homem verde” aparecer como sinal para atravessar as ruas, os pedestres encontrarão o verde como a configuração padrão quando se aproximarem desses cruzamentos. A luz muda para vermelho apenas quando o sensor detecta um veículo que se aproxima.
Esse enfoque de “prioridade para pedestres” é novidade no Reino Unido e, após nove meses de teste, os dados são encorajadores: praticamente não há impacto no tráfego e os pedestres economizam um total de 1,3 horas por dia na travessia média e são 13% mais propensos a cumprir as sinalizações de trânsito.
As medidas de compliance podem ajudar a manter as pessoas a salvo de um risco muito real: 868 pedestres morreram ou ficaram gravemente feridos em 2020 somente em Londres. Essa foi uma queda acentuada em relação aos 1.350 em 2019, provavelmente graças às medidas de confinamento por conta da Covid-19 e à diminuição do número de pessoas dirigindo para o trabalho. Mas Londres aspira se igualar a Oslo (Noruega) ou Helsinque (Finlândia), onde nenhum pedestre foi morto em 2019. Para alcançar a “Visão Zero”, a TfL está a reduzir o domínio e a velocidade do tráfego motorizado adicionando ciclovias, fechando ruas para carros e construindo infraestrutura para pedestres. Por exemplo, a cidade entregou 77 passagens de pedestres novas ou melhoradas entre 2016 e 2020 e revisa o tempo de sinalização em mais de 1.000 travessias por ano.
Este é um começo. Nos últimos 20 anos, o foco de Londres tem sido muito mais em combater o tráfego de carros do que em melhorar a experiência dos pedestres. Há quase duas décadas, em 2003, foi adotada uma taxa diária de congestionamento para veículos. As subsequentes leis de emissões expulsaram os veículos mais poluentes da cidade, e a zona em que eles estão proibidos de entrar foi ampliada em outubro passado. Mais de 1.500 câmeras ajudam no cumprimento das regras, enquanto sensores de CFTV são usados para entender melhor o fluxo e o gerenciamento do tráfego.
Os esforços para proteger o espaço de caminhada não são tão sofisticados ou duradouros. Durante a pandemia, as autoridades locais receberam poderes de emergência para instalar balizadores e fechar ruas para permitir o distanciamento social (a maioria das calçadas no Reino Unido não é larga o suficiente para que os pedestres fiquem a dois metros de distância). Os resultados foram altamente divisores em algumas comunidades, bem como na imprensa e nas eleições locais realizadas em maio. Mas é difícil argumentar contra o fato de que esses novos “bairros de baixo tráfego” estão associados não apenas a uma redução de 50% nos acidentes relacionados ao trânsito, mas também a menor posse de carros, diminuição da criminalidade nas ruas e ruas mais saudáveis para brincar e caminhar.
Políticas locais à parte, um olhar que prioriza o pedestre está a ganhar força. O Código Rodoviário Nacional do Reino Unido foi atualizado no início deste ano, exigindo que aqueles que representam o maior risco nas estradas – os motoristas – assumam a maior responsabilidade de cuidar dos outros.
Em Londres, a TfL espera expandir o uso de faixas prioritárias para pedestres. O experimento mostra que, com a ajuda da liderança política, pequenas mudanças podem ajudar a tornar nossas cidades mais transitáveis, rua a rua.