Pelo menos 2,5 quintilhões de bytes de dados são gerados todos os dias. Mas de maneira geral, o que se observa é uma dificuldade em ler e interpretar o alto volume de informações existentes, tanto no contexto pessoal, quanto no profissional
A chamada “Era da Informação” tem como principais características a tecnologia como mediadora das relações humanas e o alto volume de produção de dados. De acordo com um levantamento da IDC, empresa de inteligência de mercado e consultoria em serviços estratégicos, realizado no último ano, por dia são gerados 2,5 quintilhões de bytes de dados.
Mas, a pergunta é: será que sabemos lidar com toda essa informação e fazer a leitura correta desses dados? É diante desse cenário que o termo Data Literacy (ou Alfabetização em Dados) tem vindo a ganhar mais relevância e popularidade, especialmente entre as companhias de diferentes áreas que querem manter a sua competitividade no mercado.
O seu conceito está atrelado à capacidade de uma pessoa ler, compreender e trabalhar com dados. E isso vai muito além da tradução dessas informações. Está relacionado à expertise de analisá-las e transformá-las em ações concretas.
“Esse tema é cada vez mais importante para todo mundo, independentemente da área de atuação e de ser no ambiente de trabalho ou não”, destacou Thais Cerioni, head de marketing e comunicação no SAS, empresa líder em analytics.
A pandemia de Covid-19, por exemplo, foi um momento em que pessoas de todo o mundo precisaram fazer análises de dados a todo o tempo sobre as informações disponíveis para tomar decisões que impactavam suas vidas pessoais e seu cotidiano. “Nós percebemos durante esse período que, no dia a dia, muitas pessoas não conseguem tomar decisões com base nos dados e que precisam de uma orientação para ler essas informações e interpretá-las da melhor maneira. Isso é uma deficiência em Data Literacy”, afirma Thais.
Mercado exige profissionais habilitados para trabalhar com dados
No âmbito corporativo o uso de dados é importante por diversos fatores, como melhorar aspectos do negócio, aumentar a produtividade, otimizar processos, reduzir custos e gerar informações que permitam às empresas conhecerem mais seus clientes e proporcionarem uma melhor experiência do utilizador. Thais ressalta que as decisões cada vez mais devem ser baseadas em dados para que os gestores possam justificar os seus investimentos e garantir resultados melhores. E explica que esses dados podem ser oriundos de estudos, informações sobre audiência ou pesquisas de mercado, entre outras fontes.
Destaca ainda que os seres humanos lidam com dados a todo o tempo, desde as atividades mais corriqueiras às mais complexas. E que, por isso, é cada vez mais urgente a necessidade de saber compreender e saber trabalhar com dados. “A literacia em dados é importante tanto na sua vida pessoal, quanto na vida profissional, porque cada vez mais seremos cobrados para tomar decisão com base em informações coletadas em uma série de fontes”, defendeu Thais.
Desafios para a Data Literacy
O “Insights da Maturidade Analítica Brasileira”, estudo elaborado pela Cappra Institute, conclui que o cenário data-driven almejado pela maioria dos executivos ainda não faz parte do quotidiano das empresas. Segundo o documento, existe um forte entendimento de que o uso dos dados é crucial para a sobrevivência de qualquer negócio, mas colocar isso em prática, como parte da cultura da empresa, ainda é um grande desafio.
Thais Cerioni explicou que esses desafios estão muito ligados a duas questões culturais. A primeira é uma rejeição natural que muitas pessoas têm em relação a tudo que é relacionado aos números.
“É um preconceito que vai sendo criado na criança desde a escola, de que matemática é chato e difícil e tudo que tem número é relacionado com matemática. Como consequência, as pessoas acabam por tentar afastar-se disso.”
Outro fator, muito forte em países latino-americanos, é a tendência de tomar decisões baseadas em experiência e no próprio feeling, em vez de usar a interpretação de dados e informações concretas.
“Na verdade, o melhor dos mundos é combinar as duas coisas: conseguir basear a decisão no dado, mas usar o seu histórico, a sua inteligência e o seu feeling para interpretar da melhor maneira aquilo que o dado está dizendo”, explicou.
No Brasil, um ponto de atenção é em relação aos avanços na educação de maneira geral. “Sabemos que isso é um déficit e estamos lutando de diversas maneiras para que a educação seja mais valorizada, desde a educação de base até a educação universitária e profissional.”
Para driblar esse desafio, muitas empresas têm investido em formações e programas de formação gratuitos para suprir esses gaps da educação formal. O SAS, por exemplo, oferece opções de cursos gratuitos para quem quer aprender mais sobre análise e letramento em dados. Segundo Thais, de maneira geral, os investimentos em alfabetização de dados estão na sua fase inicial no mundo todo. “Nenhum país é superletrado em dados, está todo mundo trabalhando para melhorar isso.”
Projeto ensina alfabetização em dados de maneira divertida
Mas, a grande questão é: como promover a popularização do Data Literacy e a alfabetização de mais pessoas em relação aos dados?
De olho nessa questão, o SAS desenvolveu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, um projeto educacional que utiliza o baseball e softball para ensinar às crianças a importância dos dados. Além disso, outro objetivo da iniciativa é preparar esses jovens para os desafios futuros.
O “The Batting Lab”, como foi nomeado o programa, consiste em uma experiência interativa que utiliza tecnologias como Inteligência Artificial (IA), visão computacional, analytics e Internet das Coisas (IoT) para ajudar as crianças a melhorarem as suas tacadas e desempenho no baseball por meio da análise de dados.
À medida que se desenvolvem no esporte, as crianças também ganham mais confiança e autonomia no uso de dados e analytics, elemento fundamental na Data Literacy. Ou seja, o Batting Lab aplica ciências de dados para ajudar crianças a melhorar o seu desempenho em dois aspectos: esporte e números.
“O SAS tem investido muito nesse tema da alfabetização em dados no mundo todo, mas principalmente nos EUA, onde está localizada a sede da empresa. Estamos a investir, principalmente, nessa questão da alfabetização de dados das crianças e adolescentes, para evitar esse pé atrás com os dados depois da vida adulta.”
The Batting Lab desenvolve jovens para o futuro
O projeto teve seis semanas de duração. Durante esse período, crianças com idade entre 10 e 12 anos tiveram acesso a uma gaiola tecnológica de rebatidas, cheia de sensores e câmeras posicionados para capturar o batedor, a rebatida e detalhes do voo da bola. Para se ter uma ideia, esses sensores e câmeras são capazes de recolher mais de 50 mil pontos de dados por rebatida. Numa única sessão, por exemplo, são 50 rebatidas e mais de 2,5 milhões de pontos de dados avaliados.
Essas informações foram analisadas em tempo real gerando feedback e sugestões de aperfeiçoamento, mostrados instantaneamente nos monitores dentro da gaiola, na parede e no chão. Assim, o batedor conseguia ver como melhorar questões, como distribuição de peso, posição das mãos, os movimentos do corpo, entre outros fatores. O modelo de rebatida perfeita foi definido através da análise de centenas de rebatidas de jogadores de elite, incluindo integrantes dos times de baseball e softball da Universidade Estadual da Carolina do Norte. Esse modelo ajuda a orientar os novos batedores.
Para o SAS, incentivar a alfabetização de dados por meio do The Batting Lab ajudará os jovens a se prepararem melhor para um mundo cada vez mais movido por dados e análises.“O The Batting Lab é uma iniciativa mais recente para mostrar que os dados estão em toda parte, que podem ser úteis em qualquer tema e muito mais legais do que a aula de matemática”, resumiu Thais.
O Baseball foi escolhido, justamente, por causa das características do desporto. Ou seja, por ser mais estático que outras modalidades, permitindo a medição precisa dos movimentos. Os resultados da experiência são significativos. De acordo com dados divulgados pelo SAS, no início do programa, apenas 3 de 10 crianças tinham extrema confiança de que podiam ler tabelas e gráficos com precisão. No fim do estudo, 9 de 10 crianças tinham extrema confiança de que podiam ler tabelas e gráficos com precisão.
Inclusive, a empresa já oferece um manual de dados que pode ser usado em casa, como uma versão online do programa. Assim, pais e filhos podem monitorizar progresso via planilhas e receber orientações sobre como fazer essas avaliações.
De acordo com Thais, essa foi uma iniciativa ilustrativa sobre como o uso de dados pode ser aplicado em qualquer área. Mas, a ideia do SAS é investir em projetos parecidos com esse em diversos pontos do mundo a cada ano. “Fazer atividades desse tipo para começar a mostrar para as crianças e para as pessoas que aprender dados é bom e importante.”