Agora temos os primeiros dados sobre os seus efeitos no ambiente de trabalho. Um novo estudo, realizado por dois economistas do MIT e publicado em julho na Science, sugere que a ferramenta pode ajudar a reduzir as discrepâncias entre as habilidades de escrita de diferentes empregados. Descobriram que o chatbot permite a trabalhadores menos experientes que não escrevem tão bem produzir trabalhos de qualidade semelhante aos dos seus colegas mais talentosos.
Shakked Noy e Whitney Zhang recrutaram 453 profissionais de marketing, analistas de dados e profissionais de nível superior, e pediram que cada um deles realizasse duas tarefas que fizessem parte da sua rotina de trabalho, como a redação de comunicados, pequenos relatórios e planos de análise. Metade deles teve a oportunidade de utilizar o ChatGPT para completar a segunda tarefa.
Um outro grupo de profissionais, então, avaliou a qualidade dos resultados, dando notas de 1 a 7 aos textos. Cada texto foi avaliado por três pessoas que exercem a mesma profissão, contratadas por meio da plataforma Prolific.
Os escritores que optaram por usar o ChatGPT demoraram 40% menos tempo para completar as suas tarefas e os trabalhos produzidos receberam notas 18% mais altas do que os dos participantes que não usaram a ferramenta. Os trabalhadores que já eram capazes de escrever bem conseguiram reduzir a quantidade de tempo despendido nas suas tarefas, enquanto aqueles avaliados como escritores menos talentosos produziram trabalhos de maior qualidade uma vez que obtiveram acesso ao chatbot.
“O ChatGPT é muito bom a produzir esse tipo de texto e, por isso, é provável que a sua utilização para automatizar parte do processo de redação economize bastante tempo”, diz Noy, autor principal da pesquisa.
“Ficou claro que é muito útil para trabalhos administrativos. Muitas pessoas vão usar e isso vai ter um grande impacto na forma como o trabalho administrativo é estruturado”, acrescenta ele.
No entanto, os textos produzidos pelo ChatGPT e outros modelos de inteligência artificial generativa estão longe de ser confiáveis. O ChatGPT é muito bom a apresentar informações falsas como sendo verdadeiras, de modo que, embora trabalhadores possam aproveitar a ferramenta para produzir mais, também correm o risco de introduzir erros nos seus textos.
Dependendo do tipo de trabalho que uma pessoa realiza, essas imprecisões podem ter consequências graves. O advogado Steven Schwartz foi multado em 5 mil dólares americanos por um juiz em junho pelo uso do ChatGPT para a elaboração de um documento que citava jurisprudência e legislação falsas.
“Avanços tecnológicos são triviais e não há nada de intrinsecamente errado em usar uma ferramenta de inteligência artificial confiável como apoio”, escreveu o juiz Kevin Castel. “Mas as regras atuais impõem ao advogado um papel de vigilância para garantir a correção dos documentos que apresentam”.
Essa pesquisa indica como a inteligência artificial pode ser útil no ambiente de trabalho, funcionando como uma espécie de assistente virtual, diz Riku Arakawa, investigador da Carnegie Mellon University que estuda o uso de grandes modelos de linguagem por trabalhadores. Este não esteve envolvido nessa pesquisa.
“Eu creio que esse é um resultado muito interessante, que demonstra como a cooperação humano-IA funciona bem para esse tipo de tarefa. Quando um humano aproveita a inteligência artificial para refinar os seus resultados, pode produzir conteúdo melhor”, acrescenta.