Pensar e Fazer Transformação Digital – a base da metodologia
Inovação

Pensar e Fazer Transformação Digital – a base da metodologia

Ter sucesso não é obra do acaso. A sorte costuma dar muito trabalho a alcançar!

As mesmas regras aplicam-se no âmbito empresarial, ou seja, um sucesso empresarial deve-se essencialmente à compreensão, por parte das suas lideranças, do contexto económico, concorrencial e de estrutura do mercado, com a realização de preenchimento ou antecipação de necessidades latentes não satisfeitas. Para isso, a liderança empresarial necessita de definir estratégias aptas e estruturadas, tal como sistematizadas explicitamente e mentalmente organizadas, com um plano de atuação operacional e tática na execução de tarefas individualmente pequenas, mas críticas para garantia de consistência de atuação ao longo do tempo.  Muitos não compreendem esta definição, tal como não compreendem a necessidade de renovar e reavaliar contextos, evitando a absorção do contexto na empresa, que se traduz na eliminação de vantagens competitivas criadas (Kim & Mauborgne, 2017).

Para facilidade de compreensão, pode-se aplicar a analogia com equipas de desporto coletivo (p.e., futebol, andebol, basquetebol, entre outros), onde cada jogador tem as suas funções individuais, onde todos os jogadores treinam diariamente e realizam essas tarefas individuais, sequenciais ou paralelas, definidas inicialmente, tendo em vista o desejo da vitória no final de cada jogo e de cada campeonato. Só tendo uma execução contínua e planeada, com pequenos ajustes à realidade do desafio do momento ou do jogo a transpor, se conseguirá alcançar o alvo definido. Nenhuma equipa ganhará um jogo, se cada jogador não souber o que tem para fazer individualmente, nem souber esperar o seu momento de ação de passe de uma bola para um colega. Pior, nenhuma equipa continuará a vencer os jogos, se jogar exatamente da mesma forma sempre, não só porque cada jogo é um jogo, como os seus adversários aprenderão exatamente os seus movimentos e modelos de jogo. Independentemente disso, a estratégia está definida, a tática vai-se adaptando ao jogo a disputar, mas sempre debaixo da mesma estratégia e seu conjunto de objetivos.

Com esta analogia pretende-se exemplificar a importância de definir uma estratégia empresarial, na qual hoje se complementa com a obrigação de ter também uma estratégia de Transformação Digital. A competitividade empresarial é cada vez menos tolerante, com empresas que tenham apenas um espírito de sobrevivência!

Cada vez menos existe espaço para empresas que se mantém a realizar o que sempre fizeram. O caso mais conhecido será o da divisão de telemóveis da Nokia (Center, 2013), outrora um gigante mundial, mas que por se manter vários anos a aplicar exatamente as mesmas ações, esperando resultados iguais, perdeu o jogo para a concorrência. Não só porque a concorrência entendeu o “jogo da Nokia”, como internamente ninguém entendeu que o mundo e os clientes estavam em mudança dos seus hábitos. Os telefones passaram a ser mais que uma extensão de computadores e passaram a ser equipamentos totalmente autónomos e verdadeiras extensões das mãos dos seus utilizadores (Apple, 2007).

Desta forma, se percebe que existem várias forças paralelas e com atividade própria, como o negócio da empresa e a evolução tecnológica, que se estiverem desalinhadas e se tornarem independentes totalmente numa empresa, podem significar a extinção da própria empresa a prazo. É, por isso, fundamental assegurar que se fecha este gap entre o negócio e a tecnologia, fazendo pontes entre estas duas componentes essenciais à atividade e desenvolvimento de qualquer empresa (Ribeiro & Veiga, 2022). Essas pontes são realizadas pela estruturação de estratégias digitais capazes de unir linguagens de negócio e linguagens tecnológicas, estruturalmente e tecnicamente distintas.

Uma estratégia digital encerra em si toda a “cola” de alinhamento entre o negócio e a tecnologia, usando-se da definição de arquiteturas de sistemas de informação e de projetos estruturais de negócio com o suporte de plataformas digitais eficientes e ágeis à prossecução de benefícios diretos das estratégias definidas para o negócio.

Figura 1 – Alinhamento de Estratégias

Destacar, contudo, que em qualquer organização deve haver a prevalência de liderança pelo negócio sobre a tecnologia. Escrito de uma forma mais direta e simples, importa entender que todo e qualquer desenvolvimento realizado numa organização tem de ter sempre uma razão de negócio capaz de justificar a sua execução, seja ele por motivo de aumento de receita, redução de custos, aumento da satisfação de clientes, criação estruturada de notoriedade, ou outro motivo.

Tendo estes conceitos como base, o primeiro passo a realizar será sempre o de definir a estratégia de negócio. É nesse documento que são definidos globalmente quais os mercados, os grandes projetos, a estrutura, os produtos ou serviços ou os modelos de negócio que a empresa seguirá num período delimitado no tempo (tipicamente um período de três a cinco anos, dependente do sector de atividade). A estratégia digital e a estratégia de tecnologias de informação são estruturadas posteriormente, sendo que esta última tem uma índole muito tecnológica de organização de infraestruturas de redes e segurança, de definição e escolhas de ambientes Cloud e OnPremise, tal como definição de modelos e linguagens de programação ou softwares funcionais a utilizar.

A estratégia digital, dependendo do contexto e maturidade da empresa, deve seguir sempre uma estrutura global metodológica de três grandes etapas, as quais irão garantir a completude do gap identificado entre negócio e tecnologia.

Figura 2 — Framework de Metodologia (de Transformação) Digital

O Framework de Metodologia de Transformação Digital que se apresentade seguida, e que é um modelo suscetível de uso por qualquer empresa, tem três grandes etapas:

  • Assessment DX — dimensão de seis a oito semanas. Esta é uma etapa essencial para o autoconhecimento base da empresa, que procura garantir que a Estratégia de Negócio e os seus decisores tenham a sensibilidade adequada para os atuais desafios do mundo empresarial. Aqui analisa-se um conjunto de variáveis associadas ao Contexto e Processos da Empresa, nomeadamente:
    • Estratégia e Governação;
    • Organização e Colaboração;
    • Experiência de Cliente e de Uso;
    • Tecnologias e Plataformas;
    • Informação e Reporting;
    • Inovação e Crescimento;
    • Segurança e Privacidade.

É típico realizarem-se entrevistas a vários níveis da organização, de forma a ter uma primeira expectativa de diferencial (Gap) de necessidades, permitindo desde logo apresentar um conjunto recomendações fundamentais para que a empresa possa assumir o arranque de uma estratégia (de Transformação) Digital. Uma ferramenta usada nesta atividade é o Digital Value Assessment empresarial (http://bit.ly/introdigitalvalueassessment), o qual apoia muito facilmente numa primeira avaliação da profundidade da necessidade de mudança estratégica digital da organização.

O resultado será apresentado num mini-relatório gráfico da seguinte forma:

Figura 3 — Relatório Gráfico exemplo de Assessment Digital

  • Estratégia DX — dimensão máxima de seis meses. Esta etapa da metodologia pressupõe que a empresa tenha uma base clara de estratégia do seu negócio, bem como reconhece as suas forças e fraquezas, identificadas na etapa anterior de Assessment DX. É nesta etapa que se estrutura por completo a Estratégia Digital, pelo que são tarefas desta etapa:
    • sistematização dos principais indicadores de gestão de negócio alinhados com uma visão digital futura;
    • identificação clara do modelo de liderança e governo, bem como os KPIs — key performance indicators — das iniciativas digitais;
    • sistematização da arquitetura alto nível de suporte às iniciativas digitais;
    • estruturação de modelos de comunicação internos e externos à organização, capazes de garantir uma visibilidade das iniciativas digitais, tal como garantir um adequado processo de transição digital interno.
  • Implementação DX — dimensão de três a cinco anos. Esta é a etapa da execução e controlo da estratégia definida. Será nesta fase onde a realidade do “terreno” e a teoria da estratégia se encontram diretamente. É nesta fase que se:
    • executam as atividades definidas na etapa anterior da metodologia;
    • detalha e evolui o plano de execução estratégico definido;
    • sistematiza o processo de criação e desenvolvimento de novos produtos e serviços;
    • integra a atividade digital e de Sistemas de Informação no dia-a-dia da empresa, criando uma cadeia de valor de nova geração;
    • aplica o alinhamento da arquitetura digital com a estratégia de Tecnologias de Informação, isto é, implementa-se toda a arquitetura tecnológica de suporte à estratégia de negócio e digital.

O acompanhamento faz-se de forma contínua através da análise da evolução dos KPI de todo o projeto estratégico de Transformação Digital, definidos na etapa anterior.

Em conclusão, se no passado uma organização para evoluir consistentemente, bem como ser capaz de se destacar no mercado, não poderia dispensar uma definição clara de estratégia de negócio para atuar, o contexto mundial dos mercados, em particular pela evolução tecnológica que assistimos, nenhuma organização se pode dar ao luxo de não ter estratégias digital capaz de lhe garantir um conceito de valor distinto e único, capaz de evoluir e criar consistência na sustentabilidade ao longo do tempo.

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