“Esta nova tecnologia de IA—é muito interessante aprender como ela funciona e entendê-la melhor”, diz Luca, de 10 anos, um jovem criador de modelos de IA.
O Luca é uma das primeiras crianças a experimentar o Little Language Models (Pequenos Modelos de Linguagem), uma nova aplicação criada por Manuj e Shruti Dhariwal, dois investigadores doutorados, no MIT Media Lab. O programa ajuda crianças a entenderem como os modelos de inteligência artificial funcionam, permitindo que elas próprias construam versões em pequena escala.
A iniciativa introduz conceitos complexos que sustentam os modelos modernos de IA, sem se prender a explicações teóricas. Em vez disso, as crianças podem visualizar e aplicar os conceitos na prática, estratégia que facilita a compreensão. “O que significa fazer com que as crianças se vejam como criadoras de tecnologias de IA e não apenas como utilizadoras?”, questiona Shruti.
Aprendendo com dados e probabilidades
O programa começa por utilizar um par de dados para demonstrar o pensamento probabilístico, um sistema de tomada de decisões que tem em conta incertezas. O pensamento probabilístico está na base dos modelos de linguagem atuais (LLMs), que preveem a palavra seguinte mais provável numa frase. Ao ensinar um conceito como este, o programa pode ajudar a desmistificar o funcionamento dos LLMs para as crianças, mostrando que, às vezes, as escolhas do modelo não são perfeitas, mas sim o resultado de uma série de probabilidades.
Os estudantes podem personalizar as variáveis de cada lado do dado e ajustar a probabilidade de cada face aparecer num lançamento. Luca achou que seria “muito fixe” incluir essa funcionalidade no design de um jogo semelhante ao Pokémon que ele está a desenvolver. Todavia, a prática também pode demonstrar algumas realidades cruciais sobre a IA.
Vamos supor que um professor queria ensinar sobre a forma como os preconceitos surgem nos modelos de IA. Pode pedir-se às crianças que criem um par de dados onde cada face representa uma mão de cor de pele diferente. Inicialmente, podem ajustar a probabilidade para que 100% dos lançamentos representem mãos brancas, refletindo uma situação hipotética em que só existem imagens de pessoas brancas no conjunto de dados. Quando é pedido à IA que gere uma imagem, ela gera apenas imagens de mãos brancas.
Depois, o professor pode fazer com que as crianças aumentem a probabilidade de outras cores de pele, simulando um conjunto de dados mais diversificado. Assim, o modelo começa a gerar imagens de mãos com diferentes tons de pele.
“Foi interessante usar o Little Language Models, porque ele torna a IA algo pequeno, [onde os estudantes] conseguem compreender o que está a acontecer”, afirma Helen Mastico, uma bibliotecária de uma escola secundária em Quincy, Massachusetts, que ensinou um grupo de alunos do oitavo ano a usar o programa.
“Começa a perceber-se: ‘Ah, é assim que o viés se insere nos sistemas’”, explica Shruti. “Isto cria um contexto rico para que os educadores comecem a falar e para que as crianças imaginem como estes conceitos se expandem em grandes proporções.”
Explorando conceitos avançados de IA
O plano é que a feramente seja utilizada em todo o mundo. Os estudantes poderão carregar os seus próprios dados, monitorizados pelos seus professores. “Os estudantes também podem adicionar sons, imagens e cenários que representem as suas culturas”, diz Manuj.
Além disso, os Dhariwal implementaram também uma ferramenta que permite às crianças explorarem conceitos mais avançados, como as cadeias de Markov, nas quais uma variável anterior influencia o que vem a seguir. Por exemplo, uma criança pode criar uma IA que construa casas aleatórias com peças de Lego. A criança pode configurar que, se a IA usar uma peça vermelha primeiro, a probabilidade de a próxima peça ser amarela aumente significativamente.
“A melhor forma de apoiar os jovens como aprendizes criativos é ajudá-los a trabalhar em projetos baseados nas suas paixões”, diz Mitch Resnick, o orientador de doutoramento dos Dhariwal e cocriador do Scratch, o programa mais famoso do mundo para ensinar as crianças a programar. “E é isso que o Little Language Models faz: ele permite que as crianças peguem nessas novas ideias e as utilizem de maneira criativa.”
Um novo caminho para a educação
O Little Language Models pode preencher uma lacuna na educação atual. “Existe uma grande falta de recursos e ferramentas lúdicas que ensinem às crianças a literacia de dados e os conceitos de IA de forma criativa”, afirma Emma Callow, uma designer de experiências educacionais que trabalha com escolas para implementar novas formas de ensino sobre a tecnologia. “As escolas estão mais preocupadas com a segurança do que com o potencial do uso da IA. Mas está a progredir e as pessoas estão a começar a utilizá-lo”, afirma ela. “Existe um espaço para que a educação mude.”
O Little Language Models será lançado na plataforma educacional online dos Dhariwal, coco.build, em meados de novembro e está planeado testar o programa em diversas escolas ao longo do próximo mês.
A mãe do Luca, Diana, acredita que a oportunidade de fazer experiências com a IA lhe seja útil. “São experiências como estas que o vão ensinar sobre IA desde muito cedo e ajudá-lo a usá-la de uma forma mais sensata”, diz ela.