Um processo de decomposição de poliéster poderia tornar as roupas modernas recicláveis
Natureza e Espaço

Um processo de decomposição de poliéster poderia tornar as roupas modernas recicláveis

A nova técnica pode ajudar a transformar vestuário feito com fibras mistas em matéria-prima para têxteis futuros.

Menos de 1% do vestuário é reciclado, e a maior parte do que sobra acaba por ser despejada em aterros sanitários ou incinerada. Uma equipa de investigadores espera mudar isso através de um novo processo que transforma o vestuário de fibras mistas em peças reutilizáveis e recicláveis, sem a necessidade de uma separação prévia.

“Precisamos de uma maneira melhor de reciclar peças de vestuário complexas, porque nunca vamos parar de comprar roupa”, diz Erha Andini, engenheira química da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, e principal autora de um estudo sobre o processo, publicado em julho na Science Advances. “Queremos criar um sistema de circuito fechado para a reciclagem de têxteis.”

Muitas peças de vestuário são feitas a partir de uma mistura de fibras naturais e sintéticas. Quando essas fibras são combinadas, é difícil separá-las. Isso representa um problema para a reciclagem, que geralmente precisa que os têxteis sejam separados em categorias uniformes, da mesma forma que separamos vidro, alumínio e papel.

Para resolver esse problema, Erha e a sua equipa usaram um solvente que rompe as ligações químicas do tecido de poliéster, mantendo o algodão e o nylon intactos. Para acelerar o processo, a equipa utiliza energia de microondas e um catalisador de óxido de zinco. Esta combinação reduz o tempo de decomposição para 15 minutos, enquanto os métodos tradicionais de reciclagem de plástico demoram mais de uma hora. O poliéster acaba por se decompor em BHET, um composto orgânico que pode, em teoria, ser transformado em poliéster novamente. Embora métodos semelhantes tenham sido usados para reciclar plásticos pré-separados, esta é a primeira vez que são usados para reciclar têxteis de fibras mistas sem a necessidade de separação.

Para além de acelerar o processo, o uso de energia de microondas também reduz a pegada de carbono da técnica, uma vez que é mais rápida e utiliza menos energia, diz Erha.

No entanto, pode ser difícil escalar o processo, afirma Bryan Vogt, engenheiro químico na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que não participou no estudo. Isso porque o solvente usado para decompor o poliéster é dispendioso e difícil de recuperar após ser utilizado. Para além disso, de acordo com Erha, embora o composto BHET seja facilmente transformado novamente em vestuário, não é tão claro o que fazer com as fibras que sobram. O nylon pode ser especialmente complicado, uma vez que o tecido é degradado significativamente pela técnica de reciclagem química da equipa.

“Somos engenheiros químicos, portanto pensamos nesse processo como um todo”, diz Erha. “Esperamos que, quando conseguirmos obter componentes puros de cada peça, possamos transformá-los de novo em novelos de fio e fazer roupa novamente.”

Erha, que recebeu uma bolsa universitária para empreendedores, está a desenvolver um plano de negócios para comercializar o processo. Nos próximos anos, ela pretende criar uma start-up para levar a técnica de reciclagem de roupas do laboratório para o mundo real. Isso poderia ser um passo significativo para reduzir as grandes quantidades de resíduos têxteis nos aterros sanitários. “Será uma questão de ter o capital ou não”, diz ela, “mas estamos animados e a trabalhar nisso”.


Por: Sarah Ward
Sarah é membro editorial da MIT Technology Review americana.

Nossos tópicos