A primeira pessoa que me fez perceber a magnitude da mudança de mentalidade em relação às IAs no ano passado foi uma desconhecida. Numa manhã de março, estávamos à espera de um elevador quando ela me disse que tinha acabado de usar o ChatGPT para a ajudar a escrever um relatório para o seu trabalho de marketing. Ela odiava escrever relatórios porque não achava ser muito boa nisso. Mas desta vez, o seu chefe elogiou-a. Foi como fazer batota? Claro que não, disse ela. Fazes o que podes para te safares.
A experiência desta desconhecida com a IA generativa não é única. As pessoas nas ruas (e nos elevadores) estão a descobrir para que serve esta nova tecnologia radical e a perguntar-se como podem tirar proveito dela. De muitas maneiras, o entusiasmo em torno da IA generativa faz lembrar os primeiros dias da internet: há uma sensação de excitação e expetativa, além da impressão de que estamos a improvisar à medida que avançamos.
Ou seja, estamos numa situação semelhante à febre das empresas pontocom, por volta do ano 2000. Muitas empresas irão à falência. Pode levar anos até que vejamos o equivalente desta era ao Facebook (agora Meta), ao Twitter (agora X) ou ao TikTok. “As pessoas estão relutantes em imaginar como será o futuro daqui a 10 anos, porque ninguém quer parecer ridículo”, diz Alison Smith, diretor de IA generativa da consultora tecnológica Booz Allen Hamilton. “Mas acho que será algo muito além das nossas expectativas”.
A internet mudou tudo: a forma como trabalhamos, como nos divertimos, como passamos tempo com amigos e família, como aprendemos, consumimos, nos apaixonamos, e muito mais. Porém, também trouxe o cyberbullying, a pornografia de vingança e as fábricas de trolls. Facilitou genocídios, agravou crises de saúde mental e fez do capitalismo de vigilância, com os seus algoritmos viciantes e publicidade predatória, a força dominante do nosso tempo. Estas desvantagens só se tornaram claras quando a internet começou a ser utilizada pelas massas e surgiram as chamadas “killer apps” (aplicações ‘matadoras’, ou seja, aplicações tão úteis e atraentes, que se tornam indispensáveis para as pessoas), como as redes sociais.
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