A convergência da ciência e da religião 
Edição - Nov 2024

A convergência da ciência e da religião 

Dr. Townes, reitor do MIT e professor do instituto, apresentou as suas ideias sobre a ciência e a religião pela primeira vez numa aula de estudos bíblicos em 1964, ano em que ganhou o Prémio Nobel da Física. Mais tarde, ele aprofundou ainda mais as suas reflexões num artigo publicado nesta primavera, na revista THINK. Este texto foi reimpresso aqui, com a permissão do autor e da revista THINK, publicada pela IBM. Direitos autorais, 1966, de Charles H. Townes. 

Publicado originalmente em maio de 1966

O sucesso crescente da ciência introduziu muitos desafios e conflitos no campo da religião — conflitos estes enfrentados nas vidas individuais de diversas formas. Alguns aceitam que tanto a religião como a ciência lidam com assuntos bastante variados por meio de métodos diferentes, e assim separam-nas em lados tão opostos do raciocínio, que não é possível qualquer confronto direto. Alguns recorrem completamente ao campo da ciência ou da religião e consideram o outro, como resultado, de pouca importância, ou até mesmo como algo absolutamente nocivo. No entanto, para mim, a ciência e a religião são universais e fundamentalmente, muito similares. Na verdade, para tornar o argumento claro, gostaria de adotar o ponto de vista um pouco extremo, de que as suas diferenças são, em grande parte, superficiais e que as duas se tornam quase indistinguíveis se olharmos para a verdadeira natureza de cada uma. Talvez, devido aos seus sucessos superficiais e fascinantes, que podem desviar a atenção de uma compreensão mais aprofundada sobre os assuntos, a ciência tenha uma natureza verdadeira menos óbvia. Assim, para explicar isto, e para ilustrar esta perspetiva para os que não são cientistas, devemos ter em conta um pouco da história e do desenvolvimento da ciência.

O avanço da ciência durante os séculos XVIII e XIX gerou uma grande confiança no seu sucesso e universalidade. Um domínio após outro sucumbiu diante da pesquisa objetiva, da abordagem experimental e da lógica da ciência. As leis científicas pareciam assumir uma característica inquestionável e era muito fácil ser convencido de que a ciência, com o tempo, iria explicar tudo. Foi nesse período que Laplace pôde dizer que, se soubesse a posição e a velocidade de cada partícula no universo, e pudesse realizar cálculos de maneira extremamente precisa, ele poderia então prever todo o futuro. Laplace estava apenas a expressar a constatação óbvia da sua época, de que o sucesso e a precisão das leis científicas haviam mudado o determinismo de um argumento especulativo para um que parecia irrefutável. Também foi nessa época que o devoto Pasteur, quando questionado como ele, sendo um cientista, poderia ser religioso, simplesmente respondeu que o seu laboratório era um reino e que o seu lar e a sua religião eram outro completamente diferente. Existem atualmente muitos vestígios desse absolutismo científico do século XIX no nosso pensamento e nas nossas atitudes. Ele deu ao comunismo, baseado nos antecedentes do século XIX de Marx, um pouco da sua perspetiva sobre o percurso inexorável da história e do planeamento “científico” da sociedade.

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