Q&A: As lições que não aprendemos com o Ébola
Edição - Nov 2024

Q&A: As lições que não aprendemos com o Ébola

“Uma liderança mais inteligente tem um grande impacto”, diz Christopher Kirchhoff, participante da iniciativa dos Estados Unidos para conter o Ébola.

Konstantin Kakaes: Quais foram as medidas tomadas pelo governo dos Estados Unidos após o surto de Ébola em 2014?

Christopher Kirchhoff: Um projeto de lei de gastos emergenciais que incluía 1 mil milhões de dólares foi aprovado pelo Congresso em dezembro de 2014 e usado pelo governo para solucionar algumas lacunas importantes. Muitas nações do mundo não tinham recursos de testes para investigar quando um patógeno novo ou realmente letal surgia. Com esse dinheiro, fizemos uma parceria com mais de 60 países para podermos testar, muito mais amplamente, a deteção de patógenos quando eles aparecessem pela primeira vez. Em seguida, realizámos uma avaliação abrangente, analisando a eficácia das respostas de emergência e o sistema de saúde pública de cada um, além de trabalharmos com eles para aprimorar as suas capacidades de prontidão de atendimento e resposta. Também criámos uma rede de centros de tratamento de Ébola: 35 hospitais nos Estados Unidos, além de vários laboratórios indicados pelo governo federal. Se alguém apresentasse sintomas de Ébola ou outro patógeno altamente letal, não estaria a mais de duas horas de um hospital especializado para receber tratamento.

Outra coisa realmente importante foi a criação, no final do governo de Obama, de um novo departamento na Casa Branca chamado Direção de Segurança Sanitária Global.

Esse novo escritório dentro do Conselho de Segurança Nacional tinha duas funções. A primeira era coordenar a resposta no caso de uma crise futura. A segunda, era supervisionar mudanças estruturais substanciais em vários departamentos e agências. Estas eram reformas que não aconteceriam sozinhas, sem o acompanhamento organizado da Casa Branca.

KK: Pode explicar com um pouco mais de detalhes quais foram essas mudanças estruturais?

CK: No âmbito nacional, os poucos casos de Ébola que tivemos nos Estados Unidos mostraram grandes diferenças na forma como as autoridades federais, estaduais e locais reagiram em conjunto. Como os EUA têm um sistema federal no qual a maioria das autoridades de saúde pública está na esfera local, com a maior parte dos recursos a operar em nível federal, foi necessário estabelecer uma coordenação mais rigorosa entre os departamentos para reações futuras. Do lado internacional, descobrimos estratégias completamente novas sobre como reagir a um surto no estrangeiro usando diferentes capacidades no governo. Nunca as forças armadas tinham sido usadas para auxiliar os agentes de saúde civil da maneira como foram na África Ocidental.

KK: Acha que a existência de um escritório como esse teria feito uma diferença substancial na quantidade de casos do novo coronavírus nos Estados Unidos durante o pico da pandemia?

CK: Sim. O escritório foi dissolvido em maio de 2018. Mas o Ébola ensinou-nos que há uma penalidade impressionante por inação, visto que as pandemias crescem exponencialmente: cada dia que se atrasa na reação, enfrenta-se uma curva exponencial mais acentuada, o que faz a situação passar rapidamente de gerível para algo incontrolável. Foi o que aconteceu em 2020. Pode-se imaginar que a existência de um escritório com uma equipa qualificada de profissionais em doenças infeciosas emergentes poderia ter ajudado o governo dos EUA a ser mais ágil nos primeiros dias cruciais, quando mais recursos poderiam ter sido implementados, prontos para nos ajudar a desacelerar a curva.

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