A próxima corrida energética será pelo hidrogénio subterrâneo
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A próxima corrida energética será pelo hidrogénio subterrâneo

O hidrogénio pode ser utilizado na indústria química e como um combustível verde. Armazenamentos subterrâneos vastos podem ajudar a torná-lo numa opção econômica.

Pode parecer algo que saiu diretamente do século XIX, mas uma das áreas mais avançadas da energia hoje envolve perfurar profundamente o subsolo em busca de materiais que possam ser queimados para gerar energia. A diferença é que, desta vez, em vez de procurar combustíveis fósseis, a corrida é para encontrar depósitos naturais de hidrogénio.

O hidrogénio já é um ingrediente fundamental na indústria química e pode ser usado como um combustível mais verde em setores como aviação, transporte marítimo transoceânico e produção de aço. Atualmente, o gás precisa ser fabricado, mas há indícios de que existam vastos depósitos subterrâneos.

Estive a pensar muito em recursos subterrâneos este ano, porque reportei um artigo sobre uma nova startup, a Addis Energy. A empresa pretende utilizar rochas do subsolo e as condições existentes ali embaixo para produzir outro produto químico útil: a amônia. Numa era de avanços produzidos em laboratório, parece um retrocesso andar a cavar buracos em busca de recursos, mas olhar para o subsolo pode ajudar a atender à demanda energética ao mesmo tempo em que se enfrenta as mudanças climáticas.

É raro o hidrogénio aparecer em operações de petróleo e gás e, por décadas, acreditou-se que não existiam grandes depósitos do gás no subsolo. Afinal, as moléculas de hidrogênio são minúsculas, então mesmo que o gás se formasse ali, presumia-se que ele apenas escaparia.

No entanto, houve descobertas um tanto acidentais de hidrogénio ao longo das décadas, em minas abandonadas ou em novos poços. Há relatos de poços que expeliram um gás incolor, ou chamas que ardiam douradas. E, à medida que as pessoas passaram a buscar hidrogénio de forma mais intencional, começaram a encontrá-lo.

Acontece que o hidrogénio tende a acumular-se em rochas muito diferentes daquelas que abrigam petróleo e gás. Enquanto a prospecção de combustíveis fósseis costuma concentrar-se em rochas mais macias, como o xisto rico em matéria orgânica, o hidrogênio parece mais abundante em rochas ricas em ferro, como a olivina. O gás forma-se quando reações químicas, sob altas temperaturas e pressão no subsolo, dividem a água. (Há também provavelmente outro mecanismo de formação subterrânea do hidrogênio, chamado radiólise, no qual elementos radioativos emitem radiação capaz de dividir a água.)

Algumas pesquisas estimam que o potencial de hidrogénio disponível chega a um trilhão de toneladas — o suficiente para suprir a nossa demanda por séculos, mesmo com o aumento no uso do gás.

Nos últimos anos, surgiram empresas em várias partes do mundo, que tentam localizar e explorar esses recursos. Há um aumento de atividade na Austrália, especialmente no sul do país, que parece ter condições favoráveis à formação de hidrogénio. Uma startup, a Koloma, arrecadou mais de US$ 350 milhões para ajudar na sua exploração geológica de hidrogénio.

Há muitas perguntas em aberto para o setor, incluindo quanto hidrogénio será realmente acessível e econômico de extrair. Nem mesmo está claro qual é a melhor forma de procurar o gás hoje; pesquisadores e empresas estão a usar técnicas e ferramentas emprestadas da indústria de petróleo e gás, mas pode haver métodos mais eficazes.

Também não se sabe como isto pode afetar as mudanças climáticas. O hidrogénio, por si só, pode não aquecer o planeta, mas pode contribuir indiretamente para o aquecimento global ao prolongar a vida útil de outros gases de efeito estufa. Ele também costuma ser encontrado ao lado do metano, um gás de efeito estufa extremamente potente que pode causar grandes danos caso vaze em níveis significativos durante as operações.

Há ainda a questão do transporte: o hidrogénio não é muito denso e pode ser difícil de armazenar e transportar. Depósitos localizados longe dos consumidores finais podem enfrentar custos elevados, o que pode tornar toda a iniciativa económicamente inviável.

Mas toda a área é incrivelmente empolgante, e pesquisadores estão dedicados a compreendê-la melhor. Alguns estão a tentar expandir o potencial de recursos ao bombear água para o subsolo, com o objetivo de estimular a produção de hidrogénio a partir de rochas que normalmente não produziriam o gás.

Há algo que me fascina nessa ideia de usar o manual da indústria de petróleo e gás para desenvolver uma fonte de energia que, na verdade, pode ajudar a humanidade a combater as mudanças climáticas. Pode ser um movimento estratégico para atender à demanda energética, já que acumulamos muito conhecimento ao longo dos cerca de 150 anos em que extraímos combustíveis fósseis.

Afinal, o problema não é a escavação — são as emissões.

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