A OpenAI gastou 1,76 milhões de dólares em lobby governamental em 2024, incluindo 510.000 dólares apenas nos últimos três meses do ano, de acordo com uma nova divulgação registada a 22 de janeiro – um aumento significativo face a 2023, quando a empresa gastou apenas 260.000 dólares no Capitólio.
A organização também revelou uma nova lobista interna, Meghan Dorn, que trabalhou durante cinco anos para o senador Lindsey Graham e começou a trabalhar na OpenAI em outubro. O registo também mostra atividade relacionada com duas novas leis nos últimos meses do ano: a AI Advancement and Reliability Act, da Câmara dos Representantes, que criaria um centro governamental para investigação em IA, e a Future of Artificial Intelligence Innovation Act, do Senado, que estabeleceria testes de referência partilhados para modelos de IA.
A OpenAI não respondeu a perguntas sobre os seus esforços de lobby.
No entanto, a divulgação é um sinal claro (e talvez o mais importante) da chegada da empresa como um ator político, à medida que termina o seu primeiro ano de lobby sério e começa o controlo republicano em Washington. Embora os gastos da OpenAI com lobby ainda sejam modestos em comparação com os dos seus concorrentes – a Meta lidera a lista das Big Tech, com mais de 24 milhões de dólares em 2024 –, este aumento ocorre num momento em que a empresa e outras gigantes da IA estão a redefinir o cenário da regulamentação da inteligência artificial.
Nos últimos anos, a política de IA tem sido uma resposta aos riscos colocados por deepfakes e desinformação. Contudo, no último ano, as empresas de IA começaram a posicionar o sucesso da tecnologia como um fator essencial para a segurança nacional e a competitividade dos EUA, argumentando que o governo deve, por isso, apoiar o crescimento do setor. Como resultado, a OpenAI e outras empresas parecem agora estar preparadas para obter acesso a energia mais barata, contratos lucrativos de defesa e um ambiente regulatório mais flexível, que não se foque tanto nos riscos da IA.
Apesar de uma aparente unidade entre os grandes players no setor, há divisões significativas em algumas questões que podem abalar a harmonia demonstrada na posse do presidente Trump esta semana.
O início da regulamentação da IA
A regulamentação da IA ganhou força após o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022. Na altura, “grande parte da conversa era sobre responsabilidade”, diz Liana Keesing, gestora de campanhas para reforma tecnológica da Issue One, uma organização sem fins lucrativos que rastreia a influência da Big Tech.
As empresas foram questionadas sobre o que fariam em relação a deepfakes abusivos e à desinformação eleitoral. “O Sam Altman fez um excelente trabalho ao apresentar-se desde o início como um defensor desse processo”, afirma Keesing.
A OpenAI iniciou oficialmente os seus esforços de lobby em outubro de 2023, contratando Chan Park – um ex-conselheiro do Comité Judiciário do Senado e lobista da Microsoft – para liderar a estratégia. Os legisladores – especialmente o então líder da maioria no Senado, Chuck Schumer – expressaram o seu desejo de mitigar esses riscos específicos. A OpenAI respondeu contratando o ex-consultor jurídico de Schumer, Reginald Babin, como lobista, segundo dados da OpenSecrets. No verão passado, a empresa contratou Chris Lehane, um veterano da política, como chefe de políticas globais.
As divulgações anteriores da OpenAI confirmam que os lobistas da empresa dedicaram grande parte do ano passado a influenciar legislação como a No Fakes Act e a Protect Elections from Deceptive AI Act. No entanto, esses projetos não foram transformados em lei. Mas, com o passar do tempo, as prioridades regulatórias das empresas de IA começaram a mudar. “Uma das maiores mudanças que observámos”, diz Keesing, “é que começaram a concentrar-se fortemente na questão da energia”.
Em setembro, Altman e líderes da Nvidia, Anthropic e Google reuniram-se na Casa Branca para apresentar a visão de que a competitividade dos EUA em IA dependerá de infraestrutura energética subsidiada para treinar os modelos mais avançados. Altman propôs ao governo Biden a construção de vários data centers de cinco gigawatts, cada um com um consumo de eletricidade equivalente ao da cidade de Nova Iorque.
Ao mesmo tempo, empresas como a Meta e a Microsoft começaram a defender a energia nuclear como um meio essencial para impulsionar o avanço da IA, assinando acordos para ativar novas centrais nucleares.
As emissões da IA estão prestes a disparar
As emissões dos data centers triplicaram desde 2018. Com o lançamento de modelos de IA ainda mais sofisticados, como o Sora, da OpenAI, esses números deverão aumentar ainda mais.
Esta nova “corrida energética” está diretamente ligada ao posicionamento da IA como essencial para a segurança nacional e a competitividade dos EUA face à China. A OpenAI deixou clara a sua posição num artigo publicado em outubro:
“A IA é uma tecnologia transformadora que pode ser usada para fortalecer os valores democráticos ou para os enfraquecer. Por isso, acreditamos que as democracias devem continuar a liderar o desenvolvimento da IA.”
Em dezembro, a empresa deu um passo ainda mais radical e reverteu a sua política de não colaboração com o setor militar, anunciando uma parceria com a empresa de defesa Anduril para desenvolver modelos de IA capazes de abater drones em torno de bases militares.
Naquele mesmo mês, Altman afirmou, numa entrevista ao The Free Press, que o governo Biden “não foi tão eficaz” na condução da política de IA:
“As prioridades do governo deveriam ter sido a construção de uma infraestrutura massiva de IA nos EUA e o desenvolvimento de uma cadeia de abastecimento nacional.”
Essa visão ignora o CHIPS Act, um investimento de 52 mil milhões de dólares no setor de semicondutores nos EUA, alinhado com os objetivos de Altman. Além disso, na semana passada, Biden assinou uma ordem executiva para arrendar terras federais destinadas à construção dos gigantescos data centers que Altman propôs.
A OpenAI e a nova elite do Vale do Silício
A aproximação de Altman a Trump reflete uma crescente aliança entre o Vale do Silício e o novo governo. Mark Zuckerberg, Elon Musk, Jeff Bezos e Sundar Pichai sentaram-se diretamente atrás da família de Trump na cerimónia de posse, na segunda-feira, e Altman também esteve presente. Muitos desses líderes contribuíram generosamente para o fundo inaugural de Trump, com Altman a doar um milhão de dólares.
Apesar da aparente unidade, ainda há divisões importantes no setor. Uma delas é a disputa sobre vistos H-1B, que permitem a entrada de investigadores estrangeiros para trabalhar nos EUA. Musk e outros empresários querem expandir o programa, enquanto aliados de Trump, como Steve Bannon, opõem-se.
Outra questão é o debate entre modelos de IA de código aberto e fechado. A OpenAI e o Google mantêm em segredo os detalhes dos seus modelos mais avançados, argumentando que isso evita usos indevidos. Já a Meta e Elon Musk defendem modelos de código aberto e criticam a postura da OpenAI.
Por fim, há a batalha sobre viés e liberdade de expressão. Musk queixa-se da “censura” nos modelos de IA, enquanto Altman mantém uma posição ambígua:
“Duas pessoas nunca concordarão que um sistema é perfeitamente imparcial.”
À medida que a nova administração toma forma, a Casa Branca já começou a revogar ordens executivas assinadas por Biden, incluindo a histórica regulamentação da IA – embora tenha mantido a política de arrendamento de terras para data centers.
Entretanto, a OpenAI continua em movimento. Altman está a liderar um projeto de 500 mil milhões de dólares para construir novos data centers e, segundo a Axios, participará numa reunião privada com membros do governo a 30 de janeiro para discutir o desenvolvimento de um novo e poderoso sistema de IA.