Governança

A Evolução do CIO: de Chief Information Officer a Chief Integration Officer

Há quem sinta nostalgia de um tempo mais simples. Os telefones serviam só para telefonar; as mensagens iam por fax. Os filmes acabavam sempre bem. O micro-ondas não tinha 7 botões e estava reduzido à honrosa função de aquecer água e leite. Um emprego era, muito provavelmente, para toda a vida.

Nas empresas, as águas estavam claramente separadas. A gestão ocupava-se de toda a estratégia. O departamento comercial era o reduto dos bons vendedores. O departamento de Marketing, o responsável pela publicidade. As linhas, até as de género, estavam bem traçadas.

Mas esse é um tempo que – felizmente – já não existe. Sobrevive apenas em mentes mais nostálgicas, que não acompanharam os tempos. Foi em 1981, há precisamente 40 anos, que William Synnot e William Gruber (este último, a título de curiosidade, professor no MIT) definiram o que era o CIO.

CIO é a sigla que designa o Chief Information Officer (“Diretor de TI” ou “Diretor Executivo de Informação”). É o executivo responsável por fazer com que as Tecnologias da Informação (TI) alicercem os objetivos da empresa, aumentando a sua produtividade e a capacidade de satisfazer o Cliente.

Inicialmente, durante os anos 80 e mesmo durante os anos 90, os CIO estavam muito focados na atualização de sistemas, na criação de redes internas, em implementar bases de dados e software, fazer backup de informação e prevenir falhas no sistema informático.

O objetivo era começar a usar os dados recolhidos, de forma a analisá-los e fundamentar a tomada de decisões. Tomemos um exemplo de Marketing de uma marca de carros.  Ao perguntar ao Cliente o que o levou a escolher um produto, ganha insight sobre o que destacar em futuras campanhas.

Além disso, ao registar os dados do Cliente, pode contatá-lo facilmente quando for altura de fazer uma revisão ou no caso de surgir algum problema com essa série em particular. Infelizmente, não é um problema assim tão raro. Ainda em 2018 a Volkswagen e a Seat contactaram milhares de proprietários para resolver um problema nos cintos.

Contudo, se antes a tecnologia era um suporte para o negócio e uma vantagem competitiva, hoje em dia é absolutamente indissolúvel de qualquer estratégia. O momento decisivo foi a explosão do Software-as-a-Service (SaaS), as soluções baseadas em cloud, e mais recentemente Platforms-as-a-Service (PaaS) e Infrastructure-as-a-Service (IaaS).

A partir dos anos 2000 a Tecnologia passou a ser estritamente necessária e omnipresente. Desde habilitar novos canais de venda e métodos de pagamento, até ao Marketing Digital e à comunicação interna, passando pela gestão de stocks e logística, permite agilizar o serviço de modo a proporcionar uma experiência melhor.

Hoje, quando um cliente faz uma compra online, é possível determinar a sua origem através de parâmetros UTM ou cookies. Depois, quando faz o pagamento, despoleta um  callback que confirma que está pago. Finalmente, pode escolher onde quer levantar a encomenda graças a uma aplicação que gere o inventário e está integrada com o website. Tudo isto leva apenas segundos e é totalmente automático.

Agora, estamos a experienciar uma nova viragem. Com a big data e o blockchain à cabeça, a aplicação da Inteligência Artificial em software inteligente é capaz de se adaptar ao comportamento e ao histórico do utilizador. As TI estão a conduzir-nos para uma sociedade cada vez mais híbrida, com sistemas humano-computacionais.

Segundo a Accenture, as empresas que se deixaram “ficar para trás” na adoção destas tecnologias emergentes perderam 15% dos seus lucros anuais em 2018. Até 2023, podem pôr em risco até 46% dos seus lucros, uma vez que os early adopters estão a conseguir aumentar o seu lucro ao dobro da velocidade.

Face a esta transição digital, torna-se evidente que o CIO não pode ser só proficiente nos temas de TI. Precisa de ser também um gestor. Hoje em dia, ser CIO implica gerir toda a infraestrutura de TI, negociar com fornecedores, explorar novos recursos, conhecer tendências, justificar o investimento e procurar uma melhoria contínua.

Por outras palavras, o CIO passou a controlar como é que as TI podem ser utilizadas para maximizar o lucro da empresa e torná-la mais competitiva. É quem organiza toda a informação recolhida entre departamentos, procura tecnologia que torne as operações mais ágeis, e zela pela privacidade e segurança dos dados.

As funções não param de acumular e as mudanças são tantas que emergiu um novo nome. Em vez de “Chief Information Officer” reinterpretamos o CIO como “Chief Integration Officer”, alguém que se certifica que a informação flui por toda a empresa, sem percalços. É um especialista de TI, um estratega e um gestor ao mesmo tempo.

Talvez seja pertinente fazer agora uma breve distinção entre o CIO e o CTO (Chief Technology Officer). Embora por vezes coincidam, o CTO está mais focado em usar a Tecnologia como uma vantagem competitiva externa, enquanto o CIO procura também aplicar as TI dentro da empresa.

 Por isso, os CIO estão entre os profissionais melhor posicionados para conduzir a mudança e a transformação digital – em todas as indústrias. Além disso, graças à coordenação que as Tecnologias de Informação permitem, também devem ser proativos para construir uma estratégia mais holística, evitando que co-existam vários projetos isolados dentro da cada departamento. A longo-prazo, não haverá outra opção para que as empresas permaneçam competitivas.

Artigo de Ana Barros, Autor – MIT Technology Review Portugal

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