Cidades Inteligentes

Internet of Things na Vida Real

Segundo um relatório da International Data Corporation (IDC), em 2021 o investimento em IoT (Internet of Things) na Europa vai ultrapassar os 200 mil milhões de dólares. Em Portugal, a previsão vai ultrapassar os 2487 milhões de euros em 2023. Estima-se que, em todo o mundo, haja 13.8 mil milhões de dispositivos ligados à Internet – mas serão 30.9 mil milhões até 2025.

Mesmo assim, ainda persiste a ideia de que a IoT é algo iminente, cujas possibilidades não estão totalmente a descoberto. Embora haja um fundo de verdade nesta ideia – provavelmente, precisaremos do 5G para ligar mais dispositivos à Internet e permitir que interajam entre si sem latência – o que não corresponde totalmente à verdade.

É certo que ainda não há carros inteligentes e autónomos a circular nas nossas estradas, mas já há muitas empresas a usar a IoT para melhorar os seus serviços, ser mais produtivas ou contactar os seus Clientes. Aliás, um estudo da IDC revela que 38% das empresas portuguesas já usavam soluções IoT em 2018.

Então, vamos da teoria à prática: como funciona a Internet of Things na vida real?

Uma das principais utilizações são os sensores IoT. Tal como os sensores habituais, são capazes de medir, por exemplo, a temperatura, a humidade, o monóxido de carbono, a vibração. A diferença é que estes sensores estão ligados a outros dispositivos, por isso conseguimos partilhar estes registos.

Estes sensores são utilizados na agricultura, por exemplo, para controlar as condições ambientais e a qualidade do solo, mesmo à distância. A “agricultura baseada em dados” ou “agricultura de precisão” é mais produtiva, otimiza o uso do solo, controla pragas e contribui para uma economia de recursos, pelo que é mais sustentável.

Sem a agricultura de precisão, será impossível continuar a responder ao aumento da população mundial. Segundo as Nações Unidas, a população mundial vai chegar aos 9.7 mil milhões em 2050, pelo que a produção agrícola tem de aumentar em 69%, apesar de todas as alterações climáticas que se esperam.

Os sensores também são utilizados em manutenção preditiva, para detetar avarias mais precocemente e evitar que os equipamentos fiquem fora de serviço; em logística, para controlar stocks em tempo real; e em códigos de barras, tags RFID e NFC, o que permite o controlo de ativos, entre outras indústrias.

 Por isso, podemos dizer que a IoT ajuda as empresas a serem mais eficientes e a reduzir custos. Faz parte da Indústria 4.0 e há quem a distinga como IIoT (Industrial Internet of Things). No entanto, nem sempre é fácil apercebemo-nos de como a IoT está a mudar o “backstage” de tudo aquilo que consumimos.

Na nossa vida quotidiana, os sensores IoT têm utilizações mais prosaicas, apenas para nosso conforto. Existem fechaduras inteligentes ligadas à Internet, por exemplo, que se trancam automaticamente a certas horas. É possível ligar o videoporteiro ao seu telemóvel, para poder ver quem está a tocar sem ter de se levantar do sofá.

Além disso, a IoT também está a revolucionar o setor da saúde. Já é possível monitorizar a saturação de oxigénio, a pulsação, a temperatura e a glicose à distância. Estas tecnologias estiveram na frente de batalha agora, durante a pandemia de COVID-19, para controlar pacientes asmáticos e diabéticos remotamente.

No Marketing e na Publicidade, que entram pela nossa vida todos os dias, também notamos o impacto da IoT. Neste caso, a tecnologia possibilita uma maior aproximação das marcas às pessoas. E não, não me refiro apenas à recolha de dados e à big data a favor da segmentação no Marketing, pois há outras possibilidades a explorar.

Em 2014, a Nivea Sun Kids lançou uma campanha única no Rio de Janeiro. Além de proteger os filhos do Sol, qual é a principal preocupação das mães? Garantir que mantêm os filhos debaixo de olho. A solução da Nivea? Colocar um destacável nos anúncios, com que as mães podiam fazer uma pulseira para colocar nos filhos.

A parte interessante vem depois. A pulseira tinha, na realidade, um aparelho de rastreio. Ao emparelhar a pulseira com o telemóvel (através da app da Nivea), as mães conseguiam saber sempre a localização dos filhos. A campanha fez com que a marca liderasse esse setor de mercado pela primeira vez, com um aumento de 62% no Rio de Janeiro.

Embora seja um exemplo relativamente simples, foi uma campanha avant-garde para a época (há 7 verões!) e teve grandes resultados, precisamente pela sua relevância. À medida que a IoT se massifica e nos habituamos a viver dentro desta grande rede, as campanhas que recebemos podem ser cada vez mais pertinentes.

É uma questão de tempo até que tecnologia utilizada em logística para controlar o stock em armazém chegue ao mainstream e sirva para automatizar compras de supermercado ou monitorizar quanta ração os nossos animais de estimação comem e agendar encomendas. A experiência de compra será cada vez mais personalizada. 

A conectividade é a forma como nos relacionamos e como trabalhamos. A grande maioria de nós já não consegue viver sem Internet, em percentagens que variam dos 62% no Japão até 82% na Índia, passando para 65% na nossa vizinha Espanha. É inevitável que também influencie a forma como interagimos com as marcas.

A IoT deixa cada vez mais se cingir a pequenas campanhas, novos dispositivos médicos, a algumas fábricas mais avançadas ou a start-ups. Tal como a Internet, a banda larga, a Wi-Fi e o Bluetooth, está a permear as nossas vidas gradualmente. Talvez quase sem darmos conta, deixou de ser o “futuro” para se tornar a “vida real” e o agora.

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