Inovação

O Mundo será Tokenizado

Quase tudo o que tem valor no mundo físico pode ser tokenizado. Diante disso, a procura por uma solução tecnológica viável e que seja escalável torna-se necessária. Há um ano o Brasil apresentou essa alternativa.

O que é um Token? Cada vez mais recorrente no mundo das criptomoedas, a palavra ainda não possui uma definição concreta. Basta saber que um token digital é um item que não pode ser copiado e, no âmbito de Blockchain, é uma criptomoeda, ou simplesmente cripto. Essas criptos consistem em tokens produzidos com base em criptografia, por meio de uma blockchain, que precisa de uma cripto para premiar os “mineiros” ou aqueles que a processam; sem este incentivo financeiro, a cadeia de blocos não funciona.

Para lançar um novo token, é preciso lançar uma nova blockchain? Não. No caso específico da Bitcoin, sim, mas novas modalidades, como a Ethereum, fornecem uma imensa base de mineiros/processadores para criar o seu próprio token sem o esforço de gerar uma nova comunidade. Desta forma, a cripto seria a moeda de incentivo base de blockchain, e tokens, as moedas que podem ser criadas numa cadeia já existente.

Apesar da Ethereum ter sido criado com a pretensão de rodar qualquer programa de computador, nos últimos anos a sua aplicação mais frequente foi a de criação de tokens, os famosos tokens tipo ERC-20 (Ethereum Request for Comments, de número 20). Os tokens ERC-20 são aqueles que atendem às especificidades criadas em 2015 para serem validados no trilho da Ethereum. Sendo esta rede provavelmente a maior processadora de blockchain do mundo, surgiu então um ecossistema de aplicações que trabalham em cima desta especificação.

Função do Token

De facto, quase tudo que tem valor no mundo real pode ser tokenizado, ou seja, dividido em frações cada uma com a sua representação digital. A partir daí, pode-se ter proveito de todo o ecossistema das finanças descentralizadas (DeFi), ou seja, uma gama de produtos eficientes e gratuitos para serem utilizados. Tudo isso graças àquela rede de incentivos autónoma citada anteriormente.

Quando tokenizado, um bem do mundo real passa a existir dentro de um marketplace independente, e qualquer utilizador pode, de maneira fácil, possuir o ativo digital e transacioná-lo na rede, sem necessitar de intermediários.

Isso amplia o acesso a mercados antes restritos a operações sem liquidez ou de grandes volumes. Facilita a transferência e registo da posse do token, por conta da transparência e segurança da blockchain. Tudo com um custo mais baixo e funcionar de maneira mais eficiente.

É tão eficiente que o token começa a ser uma replicação do mundo real, ou seja, o ouro já foi tokenizado, o dólar já foi tokenizado, além de energia solar, imóveis, passes de jogadores, títulos de precatórios, e até o Real brasileiro.

Escalabilidade

No entanto, ninguém estava preparado para a aceitação tão rápida da DeFi, nem a Fundação Ethereum. Então, com uma procura maior do que o previsto, a rede passou a estar sobrecarregada, o que causou problemas de escalabilidade. Como a rede não suporta um número tão alto de transações, o valor da cripto Ether começa a subir demais, e o marketplace em questão, antes eficiente e barato, passa a ser lento e caro.

Se essa tendência DeFi persistir, a blockchain deverá ser capaz de processar as transações da PagSeguro, do PayPal e até da Visa. Cada um deles comporta entre 200 mil e um milhão de transações por segundo; ou seja, dezenas de milhões de transações por segundo, e mais, instantaneamente.

Arquitetura

A arquitetura de base da blockchain Bitcoin é a POW (Proof-Of-Work), que preza pela segurança ao limitar o processamento dos blocos a cada 10 minutos, o que é considerado muito lento para resolver a questão da escalabilidade. Mesmo com ajustes na POW, essa nunca chegará a processar milhões de transações por segundo.

Por conta do cenário, surgiu uma nova arquitetura chamada DAG (Grafos Acíclicos Dirigidos) que, resumidamente, leva a blockchain ao limite onde cada bloco carrega apenas uma transação, e estas confirmam umas às outras. O problema desta nova arquitetura é o oposto da POW, pois essa só se mostra segura e rápida se existirem milhões de transações sendo executadas, afinal, são interdependentes, e ainda exigem velocidade.

Uma implementação de DAG conhecida é a Tangle que deu origem à blockchain IOTA. A sua entrada no mundo das criptos foi um sucesso e figura entre as maiores do mundo.

Com o tempo, surgiu um problema na IOTA: como é uma blockchain nova, tem poucas transações, e só poderia ser segura após milhões delas. Mas, até lá, não há quem suporte o crescimento, pois não se investe num local lento e perigoso; ou seja, talvez a IOTA nunca alcance este patamar.

Diante deste cenário, surge uma tecnologia híbrida, desenvolvida no Brasil, metade POW e metade DAG, com uma equação de transição no meio. Ou seja, enquanto o fluxo de transações é baixo, aplica-se o POW; na medida em que aumenta, os blocos diminuem, e essa se transforma numa DAG. Isso significa que consegue capturar as vantagens das duas modalidades. O seu nome é Hathor.network, e já está no ar há mais de um ano. Agora, o mundo será tokenizado.

Isso significa que as atuais exchanges tradicionais como a Bovespa e a NYSE podem vir a se tornar obsoletas, e uma nova e gigante autónoma possa tomar o seu lugar; algumas iniciativas pequenas já existem, as chamadas DEX (Exchanges Descentralizadas). Será surpreendente se a DEX conquistar esse lugar, mas, por enquanto, a inesperada DeFi já está a acontecer. Talvez seja este o caminho natural das coisas.

Artigo de Christian Aranha, Autor – MIT Technology Review Brasil

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